21.11_futsal_social_1A 45ª edição das Olimpíadas Estudantis terminou em Petrolina. Mas, para nove jovens com idades entre 17 e 18 anos, que cumprem medidas socioeducativas no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case), a competição foi só o primeiro passo de uma relação que promete ser duradoura, com o esporte.

Mesmo desclassificados ainda na primeira fase da disputa, depois de duas derrotas, os jovens têm muito o que comemorar, já que a competição demonstrou confiança por parte da instituição com eles. Além disso, as aulas de educação física que aconteciam duas vezes por semana, com 50 minutos cada, passaram a ter um momento destinado aos treinos de futsal, em mais dois dias da semana, com cerca de duas horas de duração cada.

Parece pouco para qualquer garoto desta idade, mas para eles, o momento com a bola nos pés representa uma possibilidade de mudar uma historia de erros. De acordo com a Diretora do CASE, Nídia Alencar, a maioria dos 38 jovens da instituição que tem capacidade para 40, estão cumprindo medidas socioeducativas por homicídio. Todos são da região do Sertão de Pernambuco ou Bahia.

21.11_futsal_social_2Futsal como uma segunda chance

Para recomeçar essas trajetórias, o professor de educação física da unidade, Alexandre Oliveira propôs à direção da instituição e aos alunos, a participação nas Olimpíadas Estudantis. Depois que a ideia foi comprada, os jovens com idade na faixa determinada pela categoria e com bom comportamento receberam o convite e aqueles que demonstraram interesse passaram a compor a equipe.Durante os jogos que fizeram no Ginásio Municipal Osvaldo do Flamengo, os jovens eram acompanhados por escoltas de agentes de segurança socioeducativos, além de funcionários do CASE para dar o suporte. O resultado desta experiência, tem um saldo positivo para todos.

– Foi importante, porque eu aprendi a trabalhar em equipe, me ajudou a ter disciplina também, obedecer regras e a sair do local (CASE), foi muito bom – avalia um dos jovens de 17 anos, que está na Funase cumprindo medida por roubo.

– Me motivou a mudar de vida. Tive interesse em participar porque eu já praticava esporte lá fora e porque eu sempre sou adepto a todas as atividades que tem na casa para mostrar que eu estou querendo mudar. E foi muito boa a experiência, por ter saído e competido, mesmo a gente não tendo a chance de ganhar – explica um dos jovens de 18 anos que cumpre medida por tentativa de homicídio.

21.11_futsal_social_3Para os profissionais envolvidos na experiência, a participação na competição demonstra que o esporte pode trabalhar valores como disciplina e respeito, fundamentais no processo de ressocialização. E os resultados do projeto já são evidentes na instituição que tem um índice de reincidência de 6%.

– Eles se sentem mais capazes. Eu fiz uma avaliação quando eles chegaram e eles comentaram que nunca tiveram essa oportunidade. É um trabalho que reflete na autoestima deles, porque eles estão com outros adolescentes. A gente sente o avanço imediato no respeito, na disciplina, em tudo a gente vê essa mudança que é muito importante na vida deles – acredita Nídia.

O esporte e o futuro

Com uma rotina que inclui estudos pela manhã, cursos profissionalizantes, reforço escolar e oficinas a tarde, além de seis refeições, os esportes cumpriam papel apenas na educação formal. Mas desde que chegou à Funase, o professor de Educação Física Alexandre conta que identificou as potencialidades dos jovens para trabalhar ainda mais a prática esportiva no cotidiano deles.

21.11_futsal_social_4– Foi realmente um projeto de desafio, para mostrar que educação física, não só como esporte, mas como um todo, tem condições de demonstrar que o mundo lá fora está aberto para eles, basta eles quererem e o esporte é uma porta que tem um mundo vasto depois dela. Basta eles se conscientizarem que o esporte pode levá-los a uma melhoria, sair dessa vida de droga, de prostituição, que pode mostrar uma nova realidade, de uma vida saudável, em que eles vão poder galgar um futuro e mostrar realmente um outro lado, que a sociedade está para abraçar aqueles que queiram realmente ser ressocializados – avalia o professor.

E pelo visto, se depender do trabalho feito, os jovens devem virar o jogo.

– Pretendo continuar no futsal, com certeza, porque é muito importante para mim agora e eu vou botar em prática quando eu sair daqui – finaliza um dos jovens.

Notícia: Amanda Lima
Imagens: Magda Lomeu