Ainda pouco acostumado à rotina de entrevistas, cada vez mais frequentes, André Bié falou com a LNF nesta quarta feira de manhã. O treinador, com quem esta reportagem conversaria no final da tarde de ontem, pediu para remarcar a entrevista, pois faria uma preleção com o sub-20 do Corinthians, que continua sob seu comando. Aliás, são cinco empregos que ele acumula: Corinthians profissional e sub-20, seleção brasileira profissional e sub-20 e no clube 7 de Setembro, da Água Rasa, onde trabalha com futebol e futsal.

Divulgação Corinthians

Seja entre as categorias menores ou com os adultos, André Bié está à vontade. Foto: Divulgação Corinthians

Mesmo afirmando que não esperava tantas reviravoltas na carreira em 2016, ano em que deixou de ser auxiliar e assumiu o leme no Parque São Jorge e, de quebra, realizou um trabalho como interino da seleção principal, o treinador acredita que as oportunidades surgiram por merecimento. E lá foi ele, assumir novas e desafiadoras funções, assim como parte dos atletas que são destaque da campanha do semifinalista da LNF2016, Leandro Lino, Marcel, Rocha e outros, também mudando de categoria. Sexta feira, todos eles se preparam para o jogo de volta da semifinal, no qual, quem vencer entre Assoeva e Corinthians fica com a vaga inédita na final da Liga Nacional de Futsal. Veja a seguir o que falou André sobre este e outros assuntos.

Mudanças

“Eu não esperava que tudo isso fosse acontecer, eu trabalhava com sub-20 e auxiliar do Ferretti e fui pego de surpresa. A diretoria (do Corinthians) também fez a escolha que talvez ninguém esperasse, apostou num jovem talento. Dia a dia, como eu costumo falar com os jogadores, treino a treino, jogo a jogo, a gente foi se destacando pela nossa lealdade e comprometimento. As coisas acabaram dando neste fim, até de ser mais exposto à mídia”.

Grupo

“No começo havia uma desconfiança entre os (jogadores) mais experientes (com o trabalho dele no Corinthians), com a questão dos mais jovens de: ‘será que ele vai proteger os garotos?’. Depois, com o tempo, fui mostrando que tínhamos que sempre pensar como grupo. Porque tanto os experientes, quanto os mais jovens, poderiam dar um equilíbrio positivo para o nosso elenco. Sempre acreditei nisso, que este equilíbrio seria a fórmula certa de termos um padrão Corinthians, com essa mescla entre a garotada e jogadores experientes. E foi mais ou menos o que eu consegui fazer também nestes dois jogos da seleção. Uma renovação também com jogadores totalmente vencedores na carreira. Então isso nos ajudou e possibilitou muitas coisas, principalmente no ambiente de trabalho”.

Ricardo Artifon

Brasil venceu o Uruguai de virada. Foto: Ricardo Artifon

Relação pessoal com atletas em formação

“Antes de mais nada, os atletas são seres humanos e eu gosto de pensar assim. O atleta é visto como atleta, mas mais do que isso, precisamos saber o que acontece, principalmente na formação e na base familiar. Eu venho da base desde 2007, são anos convictos que você tem que trabalhar passo a passo, ensinar uma metodologia, mas sempre com responsabilidade e disciplina. Isso favorece meu trabalho, por conhecer estes garotos também desde lá de baixo. O Douglas e o Marcel são dois caras específicos que trabalham comigo desde o sub-15 e seguimos na equipe adulta e profissional do Corinthians, isso é bacana.

Isso (a formação do cidadão) é uma responsabilidade tremenda. Sabendo fazer de uma maneira correta, digna, eu acho que se pode fazer muitas pessoas felizes. Fazer com que o atleta compartilhe as grandes sensações da vida dele profissional com a família, acho que esse é o ponto máximo, o ponto ‘x’ de uma mentalidade vencedora”.

Sem perder a 10 jogos na LNF2016, como o time atingiu este nível de confiança?

“É o comprometimento de olhar olho no olho do seu atleta e mostrar para ele uma verdade que não tem igual. Trabalhar com harmonia, com dedicação, comprometimento, sendo leal. Fazer com que cada vez mais o corpo de atletas sigam seus conceitos e isso passa muito pela confiança. Eles acreditaram no trabalho, na metodologia e no ser humano André dos Santos. Estão imbuídos em uma mentalidade vencedora”.

Semifinal contra a Assoeva

“Vai ser um bom jogo. A Assoeva é uma equipe bem organizada taticamente. Tecnicamente tem excelente jogadores. Eu aposto no trabalho coletivo, nosso sistema proporciona justamente o jogo coletivo sem tirar o que é melhor do jogador que tem a qualidade individual. A questão é de aproximação das linhas, a primeira linha com a segunda linha tanto no sistema de ataque, quanto no defensivo, e finalizar de longa distância, porque o nosso modelo de jogo facilita empurrar a defesa adversária. Acredito muito no jogo modelado, de posse de bola, coletivo e organizado, para manipular a defesa deles”.

Futuro na seleção

“Devido ao ciclo que eu obtive no sub-20 (de clube), veio a convocação para a seleção sub-20 brasileira e, agora, como interino da principal, mas já cumpri meus dois compromissos que faltavam com a seleção adulta. Estou muito feliz de poder servir nosso país, acho que tudo isso foi por merecimento, atrelado à oportunidade.

Acho que no momento, têm outros treinadores mais experientes na questão de organização dentro da seleção. Pessoas hoje melhores colocadas para o cargo (na seleção principal). Pretendo permanecer no sub-20 e fazer um bom trabalho nas categorias de base da seleção brasileira”.

LNF2016

“A Liga está muito equilibrada, com times muito competitivos. Excelentes equipes com posse de bola, qualidade técnica individual e coletiva muito boa. Eu acho que esta Liga, na verdade, não tem hoje uma equipe que você fale: ‘vai ser campeã’. Nível técnico muito equilibrado e competitivo. Não tem como mensurar uma equipe à frente”.