“O mundo dá voltas”. Esse é um dos ditados mais clichês que existe, mas que sempre se encaixa na vida de alguém, como na de Williams Oliveira do Nascimento, mais conhecido por todos como Vassoura – apelido recebido ainda na infância por um corte “mal feito” pela avó dele, vindo a ser associado depois a habilidade do atleta nas quadras do bairro. Quem vê o brasileiro que se naturalizou no Azerbaijão e hoje brilhar na Copa do Mundo de Futsal, que acontece na Colômbia, não sabe as dificuldades que ele passou.

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Vassoura em ação na Copa do Mundo. Foto: FIFA

Sem nunca ter conhecido o pai, e longe da mãe – que morava em São Paulo e ele em Pernambuco – o menino de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, viveu com a avó até um certo tempo. Depois resolveu sair de casa e a rua foi sua morada por quase uma década.

– Vivi na rua por oito anos. Dormindo nas praças, nos bancos da feira de Jaboatão dos Guararapes. Eu dormi muito no ginásio da cidade, pulava o muro para dormir lá e ficava esperando ouvir o barulho da bola para começar a jogar. Aquele tempo foi duro, difícil demais, mas graças a Deus eu consegui sair da rua sem nunca ter feito nada de errado, como usar drogas e bebidas.

Mal sabia ele o que lhe preparava no futuro. O garoto humilde, que respirava futebol e jogava todos os dias com os amigos de bairro, estava sendo treinado pelo destino para iniciar uma grande carreira no esporte. Através de um amigo do time da cidade, surgiu a oportunidade que mudaria sua vida difícil de uma vez por toda.

– Com 16 anos fui jogar no Santa Cruz, depois de disputar uma competição pela seleção de Jaboatão e Barão, que era pivô do time, me levou para o Santa Cruz. Lá eu jogava no campo e jogava no futsal, foi daí que praticamente eu sai da rua.

As portas se abriram para Vassoura no Tricolor do Arruda – apesar de não ter atuado profissionalmente pelo clube. De lá, o Ala pivô foi para a Rússia, e rodou por parte da Europa em países como Espanha, Ucrânia, Georgia, Croácia, Letônia e chegou ao Azerbaijão, onde se firmou como jogador de futsal e recebeu por três vezes o convite para se naturalizar.

– Há oito anos eu recebi o convite para jogar em um time do Azerbaijão e na seleção, mas eu não aceitei. Eu cheguei a ir, mas não me naturalizei, pois não gostei do local onde estava na época e acabei saindo de lá. Voltei ao país há dois anos para jogar em outro time da liga nacional e me encontrei com o presidente da federação, que me convidou novamente para me naturalizar, mas o valor oferecido por ele não me interessou e não aceitei mais uma vez. Então, neste ano, há dois meses, ele me convidou de novo, desta vez por o valor que eu havia pedido e enfim eu aceitei.

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Vassoura em ação na Copa do Mundo. Foto: FIFA

Além da paixão pelo futsal, Vassoura tem outro motivo para sorrir: o filho Erick, de 8 anos. O garoto é a inspiração do jogador, que tem o nome dele tatuado no braço e é sempre o alvo das comemorações dos gols do pernambucano.

– Os meus gols eu dedico primeiro a Deus, depois a ele (filho). Sempre beijo a tatuagem que tenho dele no meu braço. Não se pode esquecer dele nesse momento.

O Azerbaijão está nas quarta de final da Copa do Mundo de Futsal. A seleção de Vassoura vai enfrentar Portugal neste domingo, às 20h (horário de Brasília), mas sem o atleta, que cumprirá suspensão por ter recebido o segundo cartão amarelo.

Além das quadras, Vassoura já atuou nos gramados também. Ele passou por várias equipes como Central, CSA-AL, Vera Cruz, Araripina, Itabaiana-SE, Campinense, Mogi Mirim e Náutico.

Daniel Gomes

Vassoura na época do Náutico. Foto: Daniel Gomes