22.07_cbfs_3A crise no futsal brasileiro teve um desfecho nesta terça-feira. Depois de um boicote de um grupo de jogadores à seleção brasileira, a CBFS (Confederação Brasileira de Futebol de Salão) e os craques Falcão, Rodrigo e Tiago selaram as pazes em uma coletiva de imprensa São Bernardo do Campo (SP). Em uma conversa na semana passada, as partes se reconciliaram com a promessa de uma maior abertura da confederação aos jogadores e o fim da aliança entre o presidente Marcos Madeira e Louise Bedé, afastada do cargo de vice-presidente. A CBFS também anunciou o retorno do técnico Serginho Schiochet ao comando da seleção brasileira.

– Estamos reunidos para começar uma nova página do futsal brasileiro. Nós vínhamos em páginas não muito boas, mas agora com certeza vamos para uma página de um futsal forte, com os jogadores que fazem a história do futsal brasileiro. Chegamos à confederação com ela destroçada em todos os sentidos, devagar estamos tentando erguê-la e já enxergamos a luz no final do túnel. Vamos transformar a confederação com uma transparência para todos saibam o que estamos fazendo e como vamos fazer. Com o apoio dos atletas e dos patrocinadores que estão chegando, vamos colocar o futsal no lugar que ele merece – disse o presidente Marcos Madeira.

– Talvez o único erro é que esse dia poderia ter acontecido antes. A confederação nos procurou na semana passada e colocamos algumas situações que achamos benéficas ao esporte, nunca nos preocupamos individualmente. Talvez o único erro nosso nessas farpas que trocamos foi justamente a distância muito grande entre nós. Não precisava ter ocorrido. O tempo foi passando, estamos perto das competições, a um ano do Mundial, e não víamos muita coisa para crescer, para melhorar. Colocamos o que discordávamos, ele nos explicou tecnicamente o porquê da presidência, acabamos entendendo. Tudo que aconteceu poderia ter sido evitado. Foram exposições negativas para o futsal. Quem acabou perdendo foi o futsal. Esperamos que seja uma nova era do futsal. A abertura que nos colocaram vai ser muito boa para o futsal – disse Falcão, um dos representantes do grupo de 50 jogadores.

Falcão por diversas vezes fez críticas pesadas à gestão do presidente Marcos Madeira na CBFS, chegando a chamá-la de pífia. Com a saída de Louise, esse cenário mudou.

– Fomos contra não à candidatura do Madeira, mas contra a aliança que ele fez com a Louise, que já era do outra gestão e era uma pessoa que não era benéfica ao esporte. No momento que ele percebeu que nosso problema era esse, naturalmente afastou ela e nos procurou. O histórico dele é zero como confederação, nem bom nem ruim, então merece essa chance.

Outro ponto fundamental para a reconciliação das partes foi a abertura prometida pela CBFS aos jogadores. Os atletas indicarão um nome para participar ativamente das decisões da entidade.

– Conquistamos a liberdade de agir diretamente em qualquer decisão da confederação, conseguimos colocar alguém lá dentro para que as coisas fossem claras. Meu sonho era que as coisas mudassem a favor do esporte. Nada vai ser benéfico para mim individualmente, ou para qualquer esporte. Conseguimos mostrar ao presidente que não temos esse orgulhe de “tem de ser do nosso jeito”.  Tem que ser benéfico para a seleção. Agora temos a liberdade de dar opiniões, e eles deixarem entrar alguém do nosso lado. Só tem a ganhar o futsal – disse Falcão.

Há 90 dias à frente da CBFS, a atual gestão conseguiu regularizar as certidões negativas da entidade, o que impedia estabelecer qualquer convênio ou contrato de patrocínio com estatais. Desde 2013 a CBFS está sem patrocinador master por causa da reprovação dos balanços da entidade. Diretor de marketing da CBFS, Bernardo Caixeta informou que conversas estão bem encaminhadas para firmar um patrocínio. Apesar de a entidade ainda estar endividada, a iniciativa agradou o grupo de jogadores.

– A prioridade agora é reconquistar o respeito pelo futsal. Sempre tive meus patrocinadores, e ninguém mais queria ouvir falar de futsal. Os números são bons de mídia e de audiência, mas o futsal não tinha a confiança dos patrocinadores. Esse respeito precisa ser revisto, porque as marcas gostam do futsal, mas não confiam. Esse é o momento de reconquistar esse respeito – disse Falcão.

Retorno de Serginho

22.07_cbfs_2Atual técnico do Sorocaba, Serginho Schiochet deixou o comando da seleção brasileira em março, descontente com a aliança política liderada entre Madeira e Louise e em apoio ao boicote dos jogadores. PC Oliveira chegou a ser anunciado como novo treinador da seleção de futsal, mas ficou apenas dois meses no cargo e saiu sem sequer fazer uma convocação, segundo a CBFS, por falta de “acordo viável” entre as partes.

Com a saída de Louise, Serginho também selou as pazes com a CBFS e retornou ao comando da seleção com a difícil missão de montar e preparar uma equipe em pouco tempo. Sem entrar em quadra desde o dia 16 de novembro, quando venceu a Colômbia por 7 a 2 e conquistou o oitavo título do Grand Prix, a seleção brasileira disputa a Copa América no Equador entre os dias 23 e 30 de agosto. Agora, os principais jogadores brasileiros confirmaram presença na competição.

– Não temos tempo para fazer experiência. Temos de correr contra o tempo. A vantagem que eu tenho é estar acompanhando a Liga Nacional. Penso em continuar relacionando alguns jogadores que estão no exterior também. Temos uma base muito boa no Brasil. Nossa missão é correr contra o tempo, é resgatar os principais jogadores e dar uma cara nova a essa seleção – disse Serginho.

Entenda a crise

O estopim da crise entre dirigentes e jogadores aconteceu no início deste ano. Endividada e impedida de negociar contratos de patrocínio com estatais devido à reprovação de um dos seus balanços, a CBFS decidiu antecipar sua eleição presidencial para o fim de março, após cancelar a realização da Copa América, que seria o primeiro compromisso oficial da seleção em 2015. Revoltados com a administração da entidade, os principais jogadores do país resolveram lançar a candidatura do ex-atleta Nilton Romão, presidente da AABB-SP. Por conta de uma aliança entre o oposicionista Marcos Madeira e a situacionista Louise Bedé, Romão teve a sua candidatura inviabilizada, o que culminou na eleição de Madeira e na consequente revolta dos atletas.

Falcão liderou um grupo de jogadores que buscaram um novo comando para a seleção brasileira de futsal. A primeira tentativa foi passar a gestão do selecionado da modalidade para a CBF, o que ainda não aconteceu por causa da influência do dirigente Weber Magalhães, atual vice-presidente geral da CBFS.  Ex-vice-presidente da CBF para a Região Centro-Oeste, Weber tem boa relação com a diretoria da entidade máxima do futebol e tem usado o seu prestígio junto a Marco Polo Del Nero para que o futsal não passe para as mãos da CBF.

Mediante o fracasso da primeira tentativa de mudança na gerência da seleção, Falcão e seus pares trabalharam para que o selecionado canarinho passasse a ser administrado por uma empresa, assim como acontece com o Sorocaba, equipe do camisa 12, que é gerida pela TFW Marketing e Participações.

O atrito chegou ao fim com a conversa na semana passada entre CBFS e o grupo de jogadores liderado por Falcão. Além de uma abertura maior aos atletas, Madeira prometeu a averiguação da conduta de Louise no cargo de vice-presidente da entidade.

Notícia: Marcos Guerra
Imagens: Marcos Guerra/ Luciano Bergamaschi/ CBFS/ Gaspar Nobrega/ Foto&Grafia