Crítica: palavra hoje pouco compreendida, porque abrange um olhar profundo sobre um tema que determinada pessoa disserta. Ao contrário do que o leitor menos apegado (ou menos crítico) com relação aos termos e à compreensão de texto pensa, não se trata de uma reclamação, um direito de julgar bom ou ruim, mas construir argumentos, discernir a respeito de algo, alguém, situação, enfim. E o senso crítico, essencial no discurso de Malafaia, parece guiar o condutor do time da Assoeva, semifinalista da Liga Nacional de Futsal (LNF).

Dias após a cair no Gaúcho, a energia de Fernando Malafaia não está por baixo, apesar de confessar o balanço da eliminação. Ele não tem tempo para isso, pois a maior decisão do ano será na sexta feira, em São Paulo, no jogo de volta contra o Corinthians para descobrir quem será finalista da LNF. Com ou sem a classificação para a próxima fase, a leitura do trabalho desenvolvido até o momento, como ele também acredita que a diretoria da Assoeva fará, deve ser com “serenidade”. Aliás, o adjetivo foi aplicado para falar de situações de jogo, mas também para contornar adversidades fora de quadra.

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Neste tom, já é a terceira Liga seguida do treinador em Venâncio Aires, onde a cada temporada consegue uma colocação melhor na competição.  Em 2015 parou nas quartas de final, de maneira inédita; este ano já chegou entre os quatro melhores, além de uma decisão de estadual e outra de Taça Brasil no período em que está na Terra do Chimarrão. Esse é o currículo no clube, mas, ao todo, já é a décima segunda Liga Nacional de Malafaia, que também já treinou na competição o Petrópolis (RJ), Anápolis(GO) e Umuarama(PR).

Oscilações na competição

“Começamos o ano muito bem. Disputando um torneio de preparação com 4 equipes da Liga Nacional e ganhamos o título. Na Taça Brasil o objetivo era, evidentemente, chegar entre os quatro, mas era uma tarefa difícil. E a equipe encaixou! Eu tinha um elenco maior e agente conseguia fazer um trabalho bacana de remodelação dentro do próprio jogo e dos treinos. Então parte do momento vivido na Taça Brasil foi esticado para a Liga Nacional. Quando comecei a perder jogadores, foram 3, a gente já não estava tão bem e desequilibrou, desarticulou alguma coisa. A gente já não vinha bem, e perdeu os jogadores, mas o que aconteceu (para o time oscilar tanto) é difícil explicar, só estando no dia a dia para compreender. Foi um momento complicado e perdurou durante um período. Graças a Deus a gente tinha uma gordura e classificamos em oitavo.

A oscilação, na minha visão, ela se deu por dois fatores: 1) A chegada na Taça Brasil (na final) era o momento de a equipe dar uma ancorada, mas por uma fração de segundo que você perde a linha de trabalho, tanto atleta como instituição e comissão técnica, desanda. Mas internamente a gente teve um comportamento interessante, por conta de ter serenidade e visão. Contornamos todas as situações, perda de atleta e não reposição e dúvidas sobre o que a equipe podia realizar, por conta dos resultados ruins, começa a gerar muita dúvida, mas teve um trabalho sereno, começamos a encaixar, quietinho ali, e encaixou na hora que tinha que ser, no final da (1ª fase) Liga”.

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Corinthians

“Quem assistiu ao jogo aqui, viu que nós erramos apenas duas vezes nos quarenta minutos, o que é difícil. A mesma coisa que foi feita aqui será feita lá, no plano tático coletivo. Esse tipo de trabalho defensivo começa na origem, que é lá na frente. O gol que a gente tomou, foi de um erro de marcação na frente e isso a gente não pode errar de novo. Mas quem viu o jogo percebe que a gente neutralizou, isso não é matemática exata, que vamos realizar exatamente o que fez aqui, nós temos que realizar mais, se quisermos passar a final. Mas também a gente imagina o seguinte, o Corinthians aqui (Venâncio) foi um time menos aventureiro do que ele normalmente é, mas porque mudou a característica ou porque o adversário impôs isso a ele? Eu te digo que foi o adversário (Assoeva).

Nós oferecemos essa resistência aqui, a contrapartida agora, é que eles vão vir com tudo. Eles estão fortalecidos por uma série de resultados, em boa fase, o jogo individual e o coletivo entram, porém, tem o dia que não entra. E a minha equipe gosta deste tipo de desafio. Porque minha equipe hoje só melhorou a partir do momento que ganhou maturidade, serenidade de continuidade de jogo de posse de bola, que é o que eu tenho como conceito: ludibriar o sistema adversário através de posse de bola. Acho que a gente tem toda a disposição de reverter o quadro lá. Porque se nós vamos enfrentar uma equipe tão corajosa e com mais força dentro de casa, nós também vamos enfrentar uma equipe que se começar a encaixar o nosso jogo, eles vão olhar para trás e vão ter o emocional abalado, e a gente sabe jogar desta forma”.

Fantasma da semifinal alvinegro

“São duas situações. Realmente não tem como você se desvencilhar disso aí (histórico de seis eliminações seguidas na semifinal). Vem na cabeça do torcedor, do jogador aquele ‘será?’. E este ‘será’ de novo no meio do caminho é muito maléfico, porque você começa a vivenciar o jogo de uma forma temerosa. Mas, são personagens diferentes, os atletas que aí estão, três ou quatro é que passaram por este desastre, o resto são atletas novos. Porém, aí é o que eu digo, neste momento se ocorrer isso (desvantagem no placar para o time da casa), independente do cara ter passado por isso ou não, o emocional conta. E se a minha equipe estiver serena e capacitada, neste momento vamos levar vantagem”.

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Qualidade técnica da LNF2016

“Eu estava preocupado com o futsal brasileiro pelo apresentado na Liga de 2015. Várias equipes com o desempenho muito bom, mas, sob o meu conceito de trabalho, eu via equipes chegando com um futsal que eu analiso como uma correria desenfreada e a leitura do atleta inexistia. O trabalho era físico orgânico, velocidade o tempo todo e nenhuma construção ofensiva com posse de bola. Eu estava muito preocupado, porque 2014 se desenhou isso, 2015 também, e para a minha surpresa, 2016 todas as equipes que fizeram isso não se classificaram, a única delas que faz um pouco disso e chegou na semifinal, mas com um diferencial que ela fica um pouco mais com a bola, é Copagril, que para mim tem esse perfil.

As equipes que eu gosto de ver jogar Corinthians, Joinville, Intelli, a minha equipe (Assoeva), Magnus, São José, times que chegaram com a promoção técnica e tática do jogo, não só físico orgânico. Eu assisto a Liga Espanhola e a Italiana aqui em casa e eu não tenho dúvida que a nossa é a mais competitiva do mundo. Só não posso dizer se é a mais qualificada no plano tático, no plano técnico sim.

Na Liga 2016 você apontava 5, 6 times para ser campeão. E entre eles não estava a Assoeva e nem Copagril, ou seja, tinha mais gente com condições. Nossa Liga é a melhor Liga do mundo no que tange o competitivo, com equipes muito iguais. É uma pena que o Joinville não tenha chegado, para mim a melhor equipe da competição”.

Sonha em treinar a seleção?

“(Silêncio)… como é que eu vou te responder isso? Porque eu não quero parecer demagogo. Curto e grosso, é não. Porque não? Porque o sistema é completamente diferente daquilo que eu imagino que tem que ser. Como eu sou um cara que não fico refém por causa de emprego, eu vou chegar e fazer muita coisa diferente daquilo que está proposto para mim. Eu nunca vou ser chamado, pelo modo como eu me pronuncio, como eu me posiciono. Por exemplo, a Liga Nacional começou como uma empresa ano passado e eu mandei uma série de situações que achava que tinham sido erradas ou certas e aquilo que, ao meu ver, tinha necessidade de mudar, para gente andar para frente. Eu não fico só falando mal ou bem, eu proponho situações. O que eu vejo que está certo é lógico que eu comungar, que eu vou andar para frente também. Então assim, não, por conta disso, porque eu não sou melhor do que ninguém e, como não aceito a situação, não devo ser chamado.

O PC não é salvação de nada. Acho que o PC é o maior entendedor da modalidade. Quer ver alguma coisa nova, de treinador? Olha para o PC, mas ele não é salvador. Tem que modificar o sistema por inteiro. Precisamos fazer um esforço conjunto. Temos rapazes bons? Temos. Na LNF mesmo temos pessoas dinâmicas, capazes e que precisam ter mais voz ativa e colocar lenha, fazer as coisas andarem para frente, está uma mesmice que não pode ficar”.

Continuidade do Projeto

“Pelo fato de não ter ido a final do Gauchão, evidente que deu um baque. Pelo que eu conheço dos dirigentes (da Assoeva) eu não vejo como mudar porque eles fazem uma boa leitura do momento. Eles têm uma característica interessante que é a valorização do trabalho”.