Quatro treinadores da Liga Nacional de Futsal 2018, enquanto atletas, foram treinados por Paulinho Gambier, atual técnico do Cresol/Marreco. Ele também comentou sobre o estilo de jogo favorito, experiência como atleta, futsal nas olimpíadas e a modalidade inserida no futebol. Essas e outras curiosidades você confere na entrevista concedida pelo treinador de 52 anos ao Jornal de Beltrão, no Paraná.

José Delmo Menezes Júnior

Paulinho Gambier levou o Marreco ao título da Copa Chopinizinho e a vitória no Clássico das Penas, sobre o Pato. Foto: José Delmo Menezes Júnior

JdeB – Você começou ainda muito jovem a trabalhar como treinador?
Paulinho Gambier – Sim, com 29 anos. Hoje eu tenho 52, então são 23 anos de experiência como treinador. Comecei na Inpacel, em Arapoti. Eu jogava no Clube Curitibano e fui convidado pelo Fernando Ferretti (hoje no Jaraguá) para fazer um trabalho na Inpacel como auxiliar, pois eu fui jogador dele. Eu sempre gostei de estudar essa parte tática. Quando eu jogava, já fazia um trabalho como treinador de categorias de base em Curitiba. Pra mim foi uma grande faculdade trabalhar com aqueles jogadores de alto nível, como Manoel Tobias, Ortiz, Fininho, entre outros.

JdeB – Tem algum treinador da Liga Nacional que foi seu atleta?
Paulinho – Sim, são quatro técnicos da Liga que foram meus atletas: Sérgio Lacerda (Pato Futsal), Marquinhos Xavier (Carlos Barbosa e Seleção Brasileira), Vander Iacovino (Joinville) e o Thiago Raupp “Gordo” (Tubarão). O Gordo, inclusive, trabalhou oito anos comigo, em Tubarão, em Três Coroas e também levei ele junto para o Kuwait. Estou feliz que ele está buscando o seu espaço dentro do cenário da Liga Nacional.

JdeB – Como foi a sua carreira como jogador?
Paulinho – Desde pequeno, sempre joguei futsal. Aí em 1985 passei pela equipe do Bradesco (RJ), que era uma das equipes que mais investia no Brasil. Hoje o Bradesco ainda tem várias categorias em disputa. Então eu vim pra Curitiba com o Ferretti pra jogar na Unibox, fomos campeões da Taça Paraná de 1986, em cima do Círculo Militar. Aí o Ferretti saiu e eu fiquei em Curitiba por conta da faculdade. Naquela época, o futsal era diferente de hoje em dia. Era difícil de sair para jogar. Comecei a trabalhar em colégios e em equipes de base e fiquei em Curitiba até 1994.

JdeB – Qual é o estilo de jogo que você gosta?
Paulinho – Basicamente é um padrão organizado, mas com criatividade. Você não pode tirar a criatividade do jogador. E aqui no Marreco, temos bons atletas neste sentido, com muita habilidade. A nossa ideia é tentar organizar tanto defesa como o ataque. Na vida, é preciso ter padrão pra tudo. No futsal não é diferente, pois a gente posiciona o jogador para atuar da melhor forma. Tem jogo que você ganha atacando e tem jogo que você vai sofrer pra marcar. Tem que buscar o equilíbrio sempre.

José Delmo Menezes Júnior

Paulinho Gambier orienta o Marreco para partir ao ataque. Treinador tem estilo de jogo ofensivo e  ousado. Foto: José Delmo Menezes Júnior

JdeB – Como foi a história de que a Espanha descobriu o futsal na década de 1980 vindo ao Brasil?
Paulinho – Na década de 1980, o Barcelona e o Real Madrid queriam descobrir como que no Brasil tinha tanto jogador bom de futebol de campo se aqui não tinha a organização. Eles eram organizados, mas não conseguiam revelar tantos talentos. Hoje os clubes brasileiros já melhoraram bastante, já têm o CT, enfim, mas na época era diferente. Quando os espanhóis chegaram aqui, descobriram o futsal. Aí começaram a levar jogador e treinador pra lá e hoje já estão bem mais organizados que nós aqui. Hoje o futsal já está espalhado em toda a Europa, como está acontecendo agora com Portugal, que está investindo muito forte.

JdeB – Um bom Centro de Treinamentos de futebol deveria ter um espaço para o futsal também?
Paulinho – Sim. As coisas estão melhorando neste sentido, mas é tudo muito lento ainda. Todo mundo está acreditando mais no futsal, como fornecedor pro futebol de campo. Se você procurar na internet, vai descobrir que na Espanha, no Centro de Treinamento do Barcelona, as crianças até 14 anos jogam futebol em campo reduzido de 20 por 40 metros. Porque no espaço reduzido, é possível melhorar o tempo de reação, pensamento rápido, um aprendizado do futsal. É comprovado que o futsal é importante na formação do futebol. Inclusive, eu fiz o curso da CBF e tenho a licença C para o futebol, e pude fazer muito bem essa comparação. Eu acho que o atleta com 14 anos não pode ficar só no campo. A ideia é trabalhar salão e campo ao mesmo tempo até definir qual é melhor, com 17 ou 18 anos. Porque se o guri sai do futsal com 14 anos e vai pro campo, se não der certo no futebol, ele não consegue voltar pro futsal. Mas se o menino conciliar as duas coisas, aumenta as possibilidades. E os clubes podem investir isso pra ajudar o futsal no Brasil. A base da Seleção Brasileira de Futebol veio do futsal.

JdeB – O futsal poderia ser mais forte do que é?
Paulinho – Sim. Inclusive, se a Fifa valorizasse mais o futsal no passado, hoje poderíamos estar muito próximos do futebol de campo. Antigamente na Europa não se tinha a calefação que se tem hoje nos campos. Não sei se vocês lembram, mas uma vez se jogava com bola vermelha por lá, por causa da neve. O futsal sobrevive e vai sobreviver. Tem espaço pras duas modalidades, é só se organizar. Não é todo mundo que vai jogar futebol. E o futsal pode viver um pouco do orçamento do futebol. E também dar entretenimento para o povo, que é um dos grandes objetivos. Eu não conheço ninguém que nunca viu futsal. E quem vai uma vez, não deixa mais de ir, pois é um jogo emocionante.

JdeB – O futsal ser olímpico é uma utopia?
Paulinho – Estou há 30 anos escutando isso. É difícil. Só vai ser olímpico se a Fifa quiser. Há uma briga de ego entre a Fifa e o COI. Se liberar muitos jogadores para os Jogos Olímpicos, vai competir com a Copa do Mundo, que é uma competição da Fifa. É por isso que eles não se acertam.