Agora é oficial. O técnico Marquinhos Xavier é o novo treinador da Seleção Brasileira de futsal. O técnico da Associação Carlos Barbosa de Futsal (ACBF) aceitou o convite da CBFS para assumir o comando do país heptacampeão mundial. O anúncio oficial será realizado em uma entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira em São Paulo. Em contrato vigente até o final do ano, ele também continuará no comando do time laranja.

Débora Zandonai

Técnico contiuará os trabalhos pelo Carlos Barbosa

A ACBF ainda está em meio às disputas da Liga Nacional de Futsal e da Liga Gaúcha de Futsal. Portanto, técnico e clube chegaram a um acordo para que o trabalho em Carlos Barbosa continue até o final do ano. “Nós temos contrato até o final do ano. Nós conversamos com o Marquinhos e a gente viu que não teria problema em conciliar o trabalho aqui e na Seleção, pois só teriam mais duas convocações até o final da temporada. Nós temos dois profissionais aqui, que são o Edgar Baldasso (auxiliar técnico) e o Alexandre Baldasso (preparador físico), que nos dão todo o suporte. No fim dessa temporada, nós vamos nos reunir e conversar novamente sobre como será na sequência, mas por enquanto, estamos pensando somente em 2017”, afirmou o presidente da ACBF Fabiano Käfer.

O trabalho de Marquinhos Xavier chamou a atenção do mundo nas últimas temporadas no comando da ACBF. Ele chegou em Carlos Barbosa em maio de 2014, depois de comandar o Copagril por seis anos. Nas últimas 13 competições, disputou 12 finais e conquistou oito títulos. Entre eles, a LNF e a Libertadores. “Não tenho dúvida nenhuma que o papel da ACBF, enquanto instituição, é protagonista nesse processo. Por isso, trato a ACBF com muito respeito e, por isso, a minha primeira ação, quando recebi o convite da Seleção, foi me reportar ao clube. Assim como já fiz em outras oportunidades, quando tive propostas para sair. Sempre a ACBF em primeiro lugar. Tenho muito respeito pela ACBF, pelas pessoas que estão aqui e acima de tudo tenho gratidão pelo o que vivo aqui”, comentou Marquinhos Xavier.

“É um fato histórico para a ACBF, em seus 41 anos de existência, ter um técnico na Seleção Brasileira. Ficamos muito felizes por ele, pois trabalha muito forte pelo futsal. Quando conseguiu implantar a sua metodologia de trabalho aqui, nos trouxe muitos títulos. Essa mesma metodologia utilizada na equipe principal também é utilizada nas nossas categorias de base. Temos que parabenizá-lo pelo o que o Marquinhos tem feito pela ACBF e pelo futsal”, disse o presidente da ACBF.

Em Carlos Barbosa, Marquinhos tem 233 jogos. Sob o seu comando, o time teve 146 vitórias, 44 empates e 43 derrotas. Foram 722 gols marcados e 389 sofridos.

Confira abaixo a entrevista com o técnico Marquinhos Xavier:

O que significa para você, como profissional, ser escolhido para treinar a Seleção Brasileira?
Marquinhos – É a realização de um desejo. Uma recompensa de um esforço de anos de dedicação. Isso não está atrelado somente aos resultados, que nos últimos anos têm sido mais expressivos, em especial pelas conquistas que tive na ACBF. Mas pelo movimento que tenho tentado fazer em prol do futsal brasileiro. O engajamento em projetos e programas que visam difundir e melhorar o trabalho de muitas pessoas me possibilitaram um espaço maior. Hoje, além da minha função de técnico, a minha entrega por realizar atividades e trabalhos voltados a melhora da performance dos atletas na formação, onde é minha grande preocupação. Sei que é um desafio muito grande. Sei que não terei dias fáceis, que serão realmente missões difíceis de serem batidas. Acredito que poderei contribuir. Ainda não sei a nível de resultado o que isso pode representar, mas acredito que a gente possa reaproximar a Seleção Brasileira das pessoas, dos clubes e dos profissionais. Torná-la mais acessível a todos. A seleção é uma referência para qualquer profissional e assim que ela precisa ser: servir de referência. Nesse processo posso contribuir com o que penso a respeito da evolução da modalidade.

Como vai ficar a relação do Marquinhos Xavier com a ACBF e com a Seleção?
Num primeiro momento, assim quando recebi o convite, a minha primeira atitude foi me reportar à diretoria. Fiz isso através do Lavoisier, que é o supervisor, e ele tratou de comunicar a diretoria. Esse foi o primeiro passo. O segundo foi entender que ao final dessa temporada a gente precisa sentar e conversar. Precisamos ver o que a ACBF pensa para si mesma. Com isso, dou ao clube o direito de ver o que é melhor para a sequência do trabalho. Precisa ter essa liberdade de dizer o que quer para 2018. Em contrapartida, a ACBF me deu a oportunidade de continuar o trabalho aqui em 2017. Até por que a Seleção não tem um calendário agressivo. Deveremos ter dois ou três encontros ainda nesse ano e não interrompe o trabalho em Carlos Barbosa. Se a gente entender que poderemos caminhar juntos em 2018, tudo bem. Do contrário, que cada um siga o seu caminho. Quero deixar a ACBF a vontade sobre isso. Num momento oportuno a gente vai sentar e decidir o que é melhor.

Como você irá implementar a sua metodologia de trabalho na Seleção?
É uma outra metodologia. Se eu tentar fazer na Seleção o que faço no clube, a possibilidade de erro é muito grande. A Seleção não treina. Ela se apresenta e você ajusta alguma coisa. Não tem como você programar algum trabalho. Então já sei que implantar uma metodologia de trabalho não daria certo. A Seleção, na minha visão, precisa ser bem monitorada. Os atletas que serão convocados precisam ser específicos para cumprir uma função. Ele já faz isso no clube e na seleção você fará apenas um ajuste final. Não tem como você pensar em trabalho à médio ou a longo prazo. Você precisa ser cirúrgico nas convocações. Nós já temos uma lista de 48 atletas que serão monitorados na Liga Nacional, aqui no Brasil. E outros 16 atletas que serão monitorados fora do Brasil. Esses atletas serão divididos em lista de prioridades. Numa eventual convocação hoje, teremos atletas de prioridade 1, que fariam parte da lista. Os atletas de prioridade 2 seriam atletas em monitoramento, que estão se destacando nos seus clubes. E quando falo em clubes não falo só dos grandes, mas de todos os times da LNF. Temos pelo menos um de cada time para monitorar. Temos também atletas de prioridade 3, que são aqueles que têm condição de ser convocados imediatamente, mas que talvez ainda não tenham a possibilidade de alongar muito o seu ciclo. Ou seja, são aqueles que talvez não estejam no Mundial de 2020 e muito menos no Mundial de 2024. Eles terão de vir para a Seleção para cumprir funções que já fazem em seus clubes.

Esse sistema foi elaborado em conjunto com o Fernando Ferreti?
Numa reunião que tivemos, a gente percebeu que pensamos da mesma forma. A ideia de reconstruir o futsal brasileiro a partir do futsal brasileiro. A gente entende que aqui no Brasil nós temos bons atletas, talvez no mesmo nível de qualidade do que os que estão fora do Brasil, mas com uma grande diferença: uma competitividade muito maior. A gente entende que no Brasil os nossos campeonatos são muito mais competitivos. Não dá para pensar que o líder da LNF vai visitar o lanterna e achar que vai ganhar o jogo com facilidade. Não vai ser bem assim. A gente quer resgatar esse nível de competitividade. Os que estão fora do Brasil serão monitorados, mas para estarem na Seleção precisam estar num nível acima dos atletas que estão no Brasil. Não é o nome que trará o atleta para a Seleção e sim o nível de competitividade. Vamos dar oportunidades para quem está fora do Brasil. Todos terão chances, inclusive, quem está em clubes de menor expressão também serão monitorados.

Tua relação com o Ferretti é muito boa. Como será trabalhar com ele na Seleção?
Primeiro que para mim foi uma surpresa ver a motivação do Ferretti em ser um auxiliar direto (coordenador técnico). Ele tem uma capacidade muito grande de gerir projetos e pessoas. Acho que essa capacidade é vital. A gente conversou e de uma forma descontraída. Talvez eu tenha o oxigênio para correr e tem ele a sabedoria para pensar. Vamos testar essas duas coisas. A capacidade de gestão dele e a minha energia de ser jovem ainda e correr atrás das coisas. A gente vai fazer uma parceria. Vamos unir os dois trabalhos em prol de um objetivo que é melhorar o futsal brasileiro. Dar ao futsal brasileiro uma visibilidade diferente do que tem hoje. Acho que essa parceria vai ser legal. Tenho pelo Ferretti um respeito enorme. Fizemos a final do Mundial de clubes no ano passado e acho que ali a gente percebeu que pode trabalhar junto.

Como fará para monitorar os atletas para as próximas convocações?
Primeiro estamos compondo a comissão técnica. A ideia da composição da comissão técnica é criar departamentos. Por exemplo, podemos ter um chefe da preparação física. Ele irá monitorar o trabalho de outros três profissionais da preparação física. Como se estivéssemos mais três profissionais que estarão em algumas convocações. Esses profissionais estarão dividindo uma parte do seu tempo para a Seleção. Teremos colaboradores indiretos para fazer tudo isso. Nossa ideia também é valorizar outros profissionais na comissão técnica. Daremos oportunidades a outros profissionais para que não seja sempre os mesmos. Precisamos preparar novos profissionais dentro da Seleção em todas as categorias. Em 2018, teremos os Jogos Olímpicos da Juventude, onde algumas pessoas já estarão nesse processo e a ideia é ter mais pessoas envolvidas. A Seleção deve pertencer ao Brasil e não a duas ou três pessoas. Essa ideia foi discutida, esse projeto é meu e do Ferretti. A gente quer que isso aconteça e claro que precisamos contar com o apoio da Confederação. Até o momento, tudo o que a gente sugeriu a CBFS tem nos apoiado.

Na sua avaliação, qual a importância da ACBF para que fosse escolhido para treinar a Seleção?
Não tenho dúvida nenhuma que o papel da ACBF, enquanto instituição, é protagonista nesse processo. Por isso, trato a ACBF com muito respeito e, por isso, a minha primeira ação foi me reportar ao clube. Assim como já fiz em outras oportunidades, quando tive propostas para sair. Sempre a ACBF em primeiro lugar. Tenho muito respeito pela ACBF, pelas pessoas que estão aqui e acima de tudo tenho gratidão pelo o que vivo aqui. Seria ingratidão pensar só em mim e esquecer que por trás disso tem uma equipe que me ajudou, uma comissão técnica, inúmeros atletas que passaram por aqui e que ainda estão aqui. Ainda todos os funcionários que dão o suporte para que a gente possa fazer o melhor trabalho. Aproveito a oportunidade para agradecer a ACBF pelo que tem feito por mim e pelo o que tem me proporcionado. Acima de tudo, por me dar oportunidade de vivenciar momentos tão especiais na minha vida profissional. É em função disso que essa oportunidade na Seleção veio. Estou muito feliz de ser o primeiro treinador da ACBF a estar num cargo de Seleção Brasileira. Já tivemos outros profissionais do clube trabalhando lá, mas na função de técnico é a primeira vez. Então só tenho a agradecer tudo isso.