Terminada a temporada de 2015, o Joinville foi vice-campeão catarinense de futsal e o pivô Sinoê recebeu uma grande proposta do futsal japonês. Com aquilo que um jogador almeja: estabilidade. Contrato assinado para dois anos e um bom salário, Sinoê deixou a família em Capão do Leão (RS) e se apresentou ao Nagoya Oceans, um dos principais times do Japão.

Ricardo Artifon/CBFS

Sinoê veste a 10 da seleção contra o Uruguai

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas, com o tempo, ele percebeu que dinheiro não é tudo na carreira de um atleta. O lado pessoal começou a falar mais alto e a saudade da esposa e das filhas apertou. Então, com menos de dois anos no país asiático, Sinoê voltou para casa.

Aí começou um problema um pouco maior, pois o Nagoya não pagou mais seu salário e não quis entregar a sua liberação sem o pagamento de uma multa rescisória, que girava em torno de 20 mil dólares. Foi onde a maioria dos clubes brasileiros esbarrou, pois seria arriscado contratar um jogador de 33 anos que estava parado há dez meses.

Sinoê só tinha duas certezas: a vontade imensa de voltar a jogar futsal e a convicção de que daria a volta por cima. Enquanto nada se resolvia, o jogador atuava em equipes amadoras do Rio Grande do Sul, ganhando por jogo, para manter a família.

Eis que surge a solução definitiva para esse caso. Um clube do interior do Paraná, querendo seu espaço no cenário nacional, pegou dinheiro emprestado para trazer Sinoê. Um time que talvez nunca tivesse condições de contratar um atleta com tanta história, mas que aproveitou o momento de dificuldade para dar a ele uma nova chance.

E em abril de 2017 o Cresol/Marreco Futsal oficializou a contratação de Sinoê Alves Avencurt, 33 anos, 76 quilos e 1,68m de altura. Jogador com mais de 270 gols marcados com a camisa do Carlos Barbosa, com passagens também por Intelli, Joinville e Pelotas. Dentre os títulos que conquistou, estão a Libertadores da América e o bicampeonato da Liga Nacional. Pela Seleção Brasileira, foi bicampeão do Grand Prix Internacional.

Já na estreia, no dia 14 de abril, contra a Intelli, no Arrudão, Sinoê mostrou que o investimento feito nele valia a pena, pois fez o primeiro gol da vitória por 4 a 2. E a cada jogo ele foi reforçando sua condição, aprimorando sua parte física e dando alegrias ao torcedor de Francisco Beltrão.

Em 29 jogos com a camisa do Cresol/Marreco, Sinoê marcou 22 gols, sendo 12 no Paranaense e 10 na Liga Nacional de Futsal (LNF). São números muito bons, que o levaram a uma surpreendente convocação para a Seleção Brasileira. A notícia veio na terça-feira, dia 19, e ontem ele jogou contra o Uruguai, em Uberaba (MG), com a camisa 10 do Brasil, time comandado por Marquinhos Xavier, com quem já trabalhou no Carlos Barbosa.

 

Proposta de fora

A boa fase de Sinoê não rendeu somente a convocação para a Seleção Brasileira. Quando abriu a janela de transferência para a Europa, o jogador recebeu uma proposta de quase três vezes mais do que ganha no Cresol/Marreco. Decidiu que não era o momento de sair.

“Quando eu estava em uma situação complicada, ninguém me queria. Agora que o Marreco acreditou em mim, não posso abandonar o projeto. Eu fico aqui até o fim do ano, pois tenho contrato. Quando eu fui para o Japão, percebi que a carreira de um atleta não é só dinheiro. É preciso ter um propósito também. E aqui eles acreditaram em mim. Sempre disse que a minha forma de agradecer é dentro de quadra”, afirma o pivô.

 

Número da camisa

Depois que jogou no Pelotas, Sinoê foi contratado pelo Carlos Barbosa. Na equipe laranja, deram-lhe a camisa 10. “Pedi outra, mas queriam que eu jogasse com a 10”, lembra-se. E foi com esse número que ele jogou por mais de 50 vezes na Seleção Brasileira. A última convocação havia sido em 2014. Na Intelli, Sinoê usou a camisa 22. “Quando cheguei no Marreco, a 10 estava com o Guina e a 22, com o Suelton. Então eu resolvi colocar a minha idade nas costas: 33.”

 

Comemoração

Sempre que faz gol, Sinoê tem a sua comemoração característica: ajoelha-se e faz de conta que está atirando com um arco e flecha para o alto. É uma homenagem a Cláudio Milar, ídolo do Brasil de Pelotas (RS), que faleceu no acidente com o ônibus do clube em 2009. “Eu joguei futebol no sub-17 do Brasil de Pelotas, é o meu clube do coração. Eu tinha uma identificação muito grande com o Cláudio. Então faço essa homenagem para ele e para o clube.”

 

O gol mais importante

Sinoê diz que o gol mais importante que fez em sua carreira foi o da final da Liga Nacional em 2009, na Arena Jaraguá, entre Malwee, de Falcão e Lenísio, e Carlos Barbosa. “Eu fiz o primeiro gol da prorrogação, que terminou em 2 a 0 para nós. Ganhamos a Liga na casa deles, foi um gol muito importante para mim e para o clube”, recorda-se.

 

Clássico das Penas

Fazer gol no Pato Futsal tem sido outra grande marca de Sinoê no Cresol/Marreco. Em três edições do Clássico das Penas em 2017, ele marcou quatro gols. “O Clássico das Penas é um dos maiores que eu já vi de rivalidade no futsal. Uma rivalidade interessante entre times e cidades, o povo vive isso aí, é um campeonato à parte para as duas equipes. Para outros torcedores, pode ser apenas um jogo, mas para nós é uma partida diferente. Fazer gol é sempre bom em qualquer partida, mas em um clássico é ainda melhor.”

 

Torcida do Marreco

Quando chegou em Francisco Beltrão, Sinoê diz que ficou impressionado com a torcida do Cresol/Marreco. “Esse fanatismo nas arquibancadas, a média de público é muito alta. Aqui o torcedor reconhece, quer tirar foto, mostra o carinho para nós. É uma torcida que critica bastante, mas também ajuda muito. Isso é muito importante. Me faz lembrar muito quando eu estava na ACBF. Lá, todo mundo é louco por futsal”, compara.

 

Ainda tem mais

Toda entrevista que Sinoê concede, fala para a imprensa que tem ainda mais por vir. Mesmo em boa fase, ele ressalta que ainda não chegou ao seu 100%. “Minha meta é voltar ao alto nível, mas ainda não cheguei lá. Não vou descansar enquanto não voltar a ser aquele Sinoê da ACBF. Estou muito motivado e me cobro todos os dias para melhorar ainda mais. Estou bem fisicamente, com ritmo de jogo, mas ainda sinto que posso contribuir mais”, afirma o jogador.

 

Metas com o Marreco

Para Sinoê, o Marreco pode chegar muito longe. “Pelo grupo de jogadores que temos, podemos surpreender muita gente pelo Brasil. São jogadores com qualidade e com experiência. Espero que a gente consiga trazer os resultados para essa torcida maravilhosa”, finaliza.

 

Brasil x Uruguai

O Brasil fez dois amistosos contra o Uruguai em Uberaba (MG). Na sexta-feira, dia 22, o time do técnico Marquinhos Xavier venceu por 1 a 0. No domingo, 24, pela manhã, goleou o adversário por 7 a 1, com direito a um gol de Sinoê.