Eleito por duas vezes o melhor técnico da Liga Nacional de Futsal (LNF) e indicado ao prêmio de melhor treinador do mundo em 2015, Marquinhos Xavier faz a sua estreia à frente da seleção brasileira nesta sexta-feira, em Uberaba (MG). O adversário é o Uruguai, às 21h30, em partida amistosa com transmissão ao vivo do SporTV. Palestrante, autor do livro “Futsal Início, Meio e Finalidade” e com trabalhos de destaque no Marechal Rondon e Carlos Barbosa, seu atual clube, Marquinhos contará com a presença do craque Falcão na sua equipe. Preterido pela comissão técnica anterior, o camisa 12 chegou a fazer a despedida oficial da seleção em março, mas acabou convencido a retornar.

Ricardo Artifon/CBFS

Falcão treina observado por Marquinhos Xavier ao fundo

Marquinhos revelou que não participou dos contatos para ter Falcão de volta. No entanto, ele fez questão de ressaltar a importância do melhor jogador de futsal de todos os tempos no processo de transição até o Mundial 2020. Vindo de uma campanha decepcionante na Copa do Mundo da Colômbia, em 2016, o Brasil tem pouco menos de três anos para retomar o brilho deixado para trás após a precoce eliminação para o Irã nas oitavas de final.
– Quando você fracassa, você retorna ao ciclo com mais atenção, usando de aprendizado o que não deu certo. Embora seja tudo muito complicado, porque é subjetivo falar de resultado, o que a gente quer é que a seleção volte a ter um brilho especial nos olhos das pessoas – disse Marquinhos Xavier.

Confira a entrevista com o novo técnico da seleção brasileira:

Como foi o contato para acertar o retorno do Falcão? Até quando pretende contar com ele?
Da minha parte, da parte técnica, não houve nenhum contato sobre isso. Vejo o Falcão como atleta e vejo a figura dele como pessoa importante no processo de transição da seleção brasileira. Não tenho participação nenhuma no processo que culminou na não utilização dele na seleção brasileira. Talvez ele não tenha a pretensão e o interesse de estar no Mundial de 2020, e a minha participação aqui é avaliar e dar oportunidade a todos. Na minha apresentação na seleção brasileira, eu frisei que estava entrando aqui sem ter problema pessoal com atleta algum, então ninguém está vetado de convocação. Todos os atletas que disputam a Liga Nacional, os Estaduais e aqueles que estão fora do país poderão ser convocados. Manter-se dentro da seleção é uma outra questão. O que quero dizer é que não vou julgar nenhum atleta pelo que aconteceu no ciclo anterior, portanto não vejo problema na presença dele nem de outro atleta nesse início de trabalho.

Seu antecessor, PC Oliveira, optou por não contar com o Falcão nesse processo de renovação. Não teme que a volta dele ofusque a busca por novos ídolos, já que o camisa 12 terá 43 anos em 2020?
Não temo não. Quando assumi a seleção, assumi com as minhas convicções, de que podemos transformar o futsal brasileiro. Sou um treinador de clube e estou acostumado a enfrentar diversos problemas que precisam ser negociados ou administrados. Na seleção não é diferente, então eu me respaldo nem pelo PC, nem pelo Serginho, nem pelo Vander (Iacovino) e nem pelo Marcos Sorato. Todos eles são referências e deixaram um legado dentro da seleção. Estou tentando aprender com o que cada um fez. Quero entender o que cada construiu para ter o meu caminho, dentro das minhas convicções. Só quero fazer o melhor para o futsal brasileiro.

Ricardo Artifon/CBFS

Marquinhos Xavier durante treino da seleção brasileira em Uberaba

Você convocou alguns atletas jovens, mesclando com jogadores experientes como Falcão. Isso seria um parâmetro do que você pretende trabalhar com a seleção até o Mundial de 2020?
Esse será um parâmetro não só para o Mundial, mas sim a diretriz do nosso trabalho. Até 2018 vamos fazer um grande processo de observação e monitoramento. Dentro disso, é muito provável que tenhamos atletas experientes se revezando dentro das convocações, assim como jovens também se revezando dentro das convocações. O que a gente precisa e estabeleceu é observar o maior número de atletas possíveis para julgar se já estão preparados para esse ciclo, para o próximo ciclo ou se não estão preparados para servir à seleção brasileira. Então, quanto mais atletas a gente monitorar, melhor será as nossas decisões.

Qual a sua expectativa para a sua primeira partida à frente da seleção brasileira de futsal?
A expectativa sempre vem cercada de tensão, mas também de motivação e cautela. Vivemos um momento de pés no chão no que diz respeito à seleção brasileira, embora a expectativa seja muito grande. Estar aqui não é um sonho e sim a realização de um desejo profissional por tudo o que fiz nos clubes por onde eu passei. A gente acredita que pode sim resgatar algumas situações dentro da seleção e a principal delas é o prazer de estar aqui, além do desenvolvimento do trabalho visando o ciclo do Mundial de 2020.
O Brasil vem de um fracasso no Mundial da Colômbia e a CBFS (Confederação Brasileira de Futsal) enfrenta problemas que todos conhecemos. Assumir a seleção nessas condições aumenta o seu desafio?
Independentemente das situações que a Confederação viveu anteriormente, já seria desafiador assumir a seleção. O que a gente tem visto é uma vontade muito grande, uma inclinação de todos nós, não só da comissão técnica como do grupo que vai gerir o projeto até o Mundial. O empenho de todos está muito grande. Tudo para que tomemos o rumo de vitórias e melhoremos a imagem. O sucesso e o fracasso norteiam o ciclo. Quando você fracassa, você retorna ao ciclo com mais atenção, usando de aprendizado o que não deu certo. Embora seja tudo muito complicado, porque é subjetivo falar de resultado, o que a gente quer é que a seleção volte a ter um brilho especial nos olhos das pessoas.

Ricardo Artifon/CBFS

Treinador tem o amistoso contra o Uruguai como primeiro desafio

Houve alguma conversa da comissão técnica com a CBFS no sentido de dar melhores condições de trabalho à seleção?
Sim. Essa conversa houve já no momento da minha apresentação. Conversamos também em outra oportunidade, porque temos uma necessidade de melhorar alguns processos de trabalho. Hoje posso dizer que a gente está debruçado em cima disso para que os processos resultem num efeito positivo para a equipe. A inclinação é que todos possam ajudar e melhorar a nossa estrutura de trabalho e assim minimizar os erros. O desafio é diminuir os índices de previsibilidade que a modalidade tem.

Sua ideia é continuar conciliando a seleção com o Carlos Barbosa no ano que vem ou pretende se dedicar exclusivamente à seleção?
Existe já uma conversa com a ACBF sobre a minha continuidade, mas não há definição em relação a isso. Uma coisa é certa: até 2018 é possível administrar seleção e clube. Mesmo porque é importante eu me manter em atividade prática, vivenciando o dia a dia do esporte. Quando você se distancia do clube, você perde essa coisa da prática. A ideia é que em 2019 eu fique só na seleção, porque já está mais perto do Mundial, e aí exige-se uma dedicação maior do treinador