O ano era 1996. O Brasil ainda chorava com a precoce morte dos integrantes do grupo Mamonas Assassinas, vivia a expectativa para os Jogos Olímpicos de Atlanta (EUA) e cantava os sucessos de Banda Eva, Daniela Mercury e Araketu. Nas principais emissoras de FM, Alanis Morissette, Back Street Boys, Spice Girls e Everything But The Girl lideravam o topo dos artistas mais tocados.

Mas, algo ainda estaria por vir nesse mesmo ano: 3 de dezembro, Barcelona (ESP), Brasil e Espanha  decidiram a terceira edição da Copa do Mundo de Futsal da FIFA. Com um show dentro de quadra, o Brasil bateu os donos da casa por 6 x 4, diante um público de 15.500, que tomou as dependências do Palau Saint Jordi.

Comandado pelo técnico Takão, o selecionado brasileiro faturou o quinto título de sua história (somado às conquistas na época em que a modalidade se chamava Futebol de Salão e era gerenciada pela FIFUSA), levando para a Espanha craques como Serginho, Choco, Fininho, Sandrinho, Vander Iacovino, Manoel Tobias, dentre outras promessas.

A campanha começou em 25 de novembro, com vitória por 5 x 2 sobre a Bélgica. Na sequência, 18 x 0 sobre Cuba, com destaque para Manoel Tobias, autor de cinco tentos. O terceiro triunfo veio sobre a seleção iraniana: 8 x 3.  Depois, vitória em cima do Uruguai por 5 x 2.

O primeiro empate na competição aconteceu em 1 de dezembro, quando os brasileiros ficaram no 2 x 2 coma Ucrânia (quarta colocada na classificação final). Os gols do Brasil foram anotados por Manoel Tobias e Vander Iacovino.

Na fase final, mais três vitórias: 5 x 1 em cima da Holanda, 6 x 2 sobre os russos, e na grande final, 6 x 4 na Espanha, com gols de Danilo (2), Choco, Marcio, Vander Iacovino e Manoel Tobias (principal artilheiro do time na competição,  com 14 gols).

DivulgaçãoÚnico tri campeão do mundo (1992, 1996 e 2012- este como auxilar técnico), o atual comandante do JEC/Krona, Vander Iacovino, fala sobre a conquista de 20 anos atrás: “Foi um momento muito especial, pois era a conquista de um bi campeonato pela seleção Brasileira e como capitão. Acredito que a presença de quatro atletas do Mundial de Hong Kong, em 1992, tenha sido muito importante, passar sua experiência e vivência, para atletas novos ou que disputavam pela primeira vez um Campeonato tão importante e especial”.

Craque dentro de fora das quadras, Fininho, hoje treinador de futsal fala sobre o título e compara as seleções de 1996 com a atual:

Divulgação“Aquela conquista foi muito importante, por que era geração que estava aparecendo e precisava se firmar do grupo de 1992 (que só tinha quatro atletas: eu o Manoel Vander e Serginho goleiro),  e vinha surgindo grandes nomes. Era um grupo forte no coletivo e o individual, aparecia naturalmente, mas sempre com o objetivo de ser campeão.  Para a seleção de hoje temos grandes jogadores, sem dúvidas. Mas temos que focar no coletivo, até porque são atletas parecidos com suas características. Mas na parte individual tínhamos mais peças que faziam a diferença em relação à seleção de hoje”.

Choco, ex- treinador da Assaf (RS), deixou o clube gaúcho após oito meses de salários atrasados, também relembra a conquista de 20 anos atrás com muito carinho, principalmente pelo apoio recebido dos ex-diretor da ACBF, José Bavaresco (CABEÇA) e do treinador Jarico, com quem trabalhou na equipe gaúcha:

Divulgação“Para mim, o título de 1996 foi mais que um título: foi uma afirmação de tudo que aqueles jogadores  fizeram durante aquela ano. Para mim, em especial, por ter levado a ACBF de Carlos Barbosa ao 1º título da história do clube depois de 20 anos e por ter sido um ano bom e a o mesmo tempo triste que durante a pré-temporada para o Mundial, a casa da minha mãe, em Viamão, onde moro, pegou fogo. Mas ao mesmo tempo, um diretor amigo, que foi o responsável de eu ter ido para a ACBF, me deu toda a assistência para que eu pudesse seguir treinando tranquilo e posteriormente, conquistar um título tão difícil e desejado por todos.

Não foi fácil. Mas o nosso grupo estava muito consciente do que representaria aquela conquista para todos nós.  Diferença entre a nossa seleção para a de hoje: que muitos dos jogadores de agora já atuam na Europa. Isso é bom e ruim ao mesmo tempo, porque todos lá fora já nos conhecem. Mas o nosso maior inimigo é o tempo de preparação. Isso sim pode nos prejudicar”.

Ficha técnica

Data: 8/12/1996

Local: Barcelona

Brasil 6 x 4 Espanha

Público: 15.500 pessoas

Brasil: Serginho, Márcio, Waguinho, Manoel Tobias, Fininho, Sandrinho, Danilo, Choco, Vander (c), Bagé, Clóvis e Djacir. Técnico: Takão.

Espanha: Jesus, Julio, Santi, Fran, Vicentin (c), Pato, Lorente, Javi Sanchez, Javi Rodrigues, Ferreira, Joan e Juanjo. Técnico: Javier Lozano.