Enxuta: equipe de Caxias/RS que marcou época, principalmente com o tri da Taça Brasil 89, 95 e 96. Sem a existência desta equipe, talvez o futsal tivesse demorado um pouco mais na transição do que Paulinho Sananduva chamou do “semi-amadorismo para o profissionalismo”. As discussões da profissão e seus rumos, entre atletas como o próprio Paulinho, Morruga, PC, Ronaldão e Jorginho, entre outros, começou ali uma faísca que continua acesse em cada figura destas, muitas das quais ainda contribuindo para o futsal brasileiro.

Divulgação

Sananduva orienta os jogadores em reino no Ney Braga. Foto: Divulgação

Em conversa com a LNF, o hoje treinador da Copagril, dona da melhor campanha e semifinalista da LNF2016, atribuiu em grande parte sua decisão em ser técnico à convivência com companheiros e treinadores de alto nível, bem como o ambiente da Enxuta, onde ficou por sete anos, cinco deles como jogador. Ele também descreveu suas principais características quando atuava com a bola nos pés e respondeu se gostaria de treinar a si próprio, em um exercício de imaginação.

Além disso, e principalmente, Sananduva falou sobre o adversário deste domingo, às 11 horas, o Magnus. Ressaltou a experiência do time do Sorocaba e relembrou o sufoco contra o Floripa, nas quartas de final, quando o time perdeu em casa após golear fora, empatou no final da prorrogação e só conquistou a vaga nos pênaltis. Leia abaixo a entrevista completa.

Como era o Paulinho jogador? Acredita que gostaria de treinar um atleta com o seu perfil?

“Sempre fui um jogador muito responsável taticamente, principalmente com o passar dos anos, nas equipes que atuei, tinha uma responsabilidade muito grande de armar e organizar. Gostava de me preparar para grandes jogos, tanto é que nas decisões em seleções e Taças Brasil fiz gols, o que não era tão comum. Eu era um jogador muito tático e concentrado. Sem dúvida nenhuma é um perfil de jogador, que eu como técnico, admiro”.

Enxuta

“Eu tive uma participação ativa durante 7 anos. O clube realmente é um marco de revolução entre o semiamador e o profissionalismo. Eu tenho que agradecer porque tive muitos bons técnicos e companheiros. Morruga, Ronaldão, Jorginho, Ortiz, jogadores de alto nível técnico individual e capacidade intelectual grande. Nós realmente discutíamos a nossa profissão, debatíamos o dia a dia, sempre querendo melhor e buscando mais. Foi uma geração que eu acho que marcou justamente porque, até hoje, a maioria dessas pessoas estão trabalhando no futsal. Essas duas variáveis, de ter tido bons técnicos e excelentes companheiros e uma estrutura de trabalho boa, sem dúvida, contribuiu até para a tomada de decisão de entrar para a carreira de técnico”.

Jogadores de futsal hoje em dia

“O futsal de alto nível exige certas condições para os atletas. O condicionamento físico, pela essência do jogo, com a mudança de regas, de muita velocidade e alternância de posse de bola, O jogador que não tiver uma compreensão tática daquilo que ele tem que fazer, de qual é a sua função, já ficou parte trás. Ele tem que ter essa compreensão, porque a condição física e técnica, muitas vezes são equilibradas. E o jogador que tem uma leitura do jogo, do momento do ataque e da defesa, ele sem dúvida nenhuma se torna importante”.

Magnus

“Nós não estamos jogando contra qualquer equipe, mesmo tendo uma vantagem de ter vencido o 1º jogo. O que a gente não pode é mudar o que a gente vem fazendo, a mesma essência da nossa chegada até aqui. Tanto dentro como fora de casa, nós temos uma postura bem franca, bem ‘normal’ de jogar e não vamos abrir mão disso. Talvez quem tenha que mudar um pouco de postura seja o adversário. Eles têm que buscar o resultado, mas é uma equipe acostumada a jogar na pressão, com casa cheia em grandes jogos. Nós temos que tomar todo o cuidado, para que o Magnus não transfira pressão demais para a nossa equipe, mesmo a gente jogando em casa. Saber administrar o jogo sem perder a essência da nossa característica que se consolidou durante a Liga, a nossa regularidade”.

Danilo Camargo

Semifinal – Ida – Magnus 1×2 Copagril. Foto: Danilo Camargo

Batalha contra o Floripa

“Nós tomamos um gol muito cedo, com menos de vinte segundos. O Florianópolis veio jogando por isso e eles são uma das melhores equipes para buscar resultado fora de casa. Com o tempo a minha equipe sentiu essa pressão de classificar em casa e por no primeiro jogo ter goleado e feito seis gols. A gente não quer que isso aconteça contra o time de Sorocaba, a gente não pode sair atrás, para que a experiência deles e toda a bagagem que eles têm não entrem no jogo. Nós realmente fizemos um jogo muito abaixo do que a gente vinha fazendo contra o Florianópolis. Não conseguimos encaixar o nosso ataque, não finalizamos com qualidade, mas conseguimos empatar na prorrogação. Mas, serviu de lição para que não ocorra mais isso”.

Carina Ribeiro

Copagril venceu o Floripa nos pênaltis e passou para as Semifinais. Foto: Carina Ribeiro

Análise técnica da LNF2016

“Uma Liga bastante equilibrada. Vejo o surgimento, às vezes até em virtude da crise financeira, de jogadores novos com talento. E aí que reside um dos desafios de quem está dirigindo seleções, mapear onde estão estes talentos, coloca-los em equipes de Liga nesta transição de juvenil para adulto. Então, eu vejo a Liga com bons olhos, temos que melhorar ainda na organização e no planejamento. Mas, sem dúvida, a Liga mais difícil de jogar no mundo é a Liga brasileira”.

Seleção Brasileira

“Todo técnico que trabalha tem (ambição de chegar à seleção), mas a minha preocupação maior é com o futsal do Brasil. Eu que já vivi todas as fases e acho que a gente está dando uma dimensão muito grande para a questão do técnico. O técnico que for escolhido vai ter apoio, quem quer que seja. O que a gente precisa urgentemente é organizar o nosso futsal, fortalecer a nossa modalidade. Começando por planejamento e organização na formação de novos atletas. Muitos bons atletas se perdem, param ou vão direto para o exterior.

A transição de juvenil para adulto é muito difícil. Eu fui campeão brasileiro sub 20, em 2015, com uma a ADS de Sananduva, uma equipe de uma cidade de 17 mil habitantes jogando contra grandes equipes. Então, este mapeamento de atletas é fundamental. E coloca-los em equipes da Liga para que eles possam crescer gradativamente.

A seleção é um desafio para todo técnico, mas eu queria ver primeiro a minha modalidade muito mais fortalecida. Uma interação muito grande entre os técnicos, seja de seleção, seja de equipe para que a modalidade cresça. A gente precisa melhorar a estrutura de trabalho. Nós temos muitos bons técnicos no Brasil, com condições e capacidade”.