É possível jogar futsal acometido por uma paralisia facial? Ou melhor: dá para acreditar que algum ser humano jogou uma partida decisiva de Mundial nessas condições e ainda conseguiu marcar duas vezes numa vitória de virada? Pois bem, isso aconteceu na Copa do Mundo de 2012, na Tailândia. O personagem, é claro, foi Falcão, protagonista da vitória do Brasil por 3 a 2 sobre a Argentina, há oito anos.

Foto: Lars Baron/Getty Images/FIFA

Com parte do rosto paralisado, Falcão chora após marcar o gol da virada sobre a Argentina. Foto: Foto: Lars Baron/Getty Images/FIFA

 

O épico duelo entre brasileiros e argentinos, que valeu pelas quartas de final, será reexibido neste sábado, ao meio-dia, no SporTV, no segundo episódio do Especial SporTV Futsal. Personagem principal do confronto, Falcão falou sobre as lembranças que tem daquele dia.

– Que bom que vai reprisar esse jogo, que muita gente conta a história, lembra, fala, mas não assistiu. Com certeza, acho que foi minha afirmação como referência do esporte. Muitos me colocam como o melhor jogador da história e passa muito por esse Mundial, principalmente, por esse jogo. Porque a gente estava perdendo por 2 a 0. Uso esse jogo nas minhas palestras, me emociono e que alegria que vai passar mais uma vez – destacou Falcão.

 

Falcão comemora possibilidade de rever o jogo contra a Argentina. Clique AQUI 

 

O Brasil começou mal o clássico. O primeiro tempo foi dominado pela Argentina, que fez dois gols em menos de dois minutos. Aos 17, Rescia chutou cruzado, e Tiago não conseguiu fazer a defesa. Um minuto depois, Borruto iludiu a marcação de Ari e bateu rasteiro. A bola passou por entre as pernas do goleiro brasileiro.

Falcão, que estava com uma paralisia facial, assistiu ao primeiro tempo do banco de reservas. O camisa 12 começou a ter o problema de fundo nervoso na goleada por 16 a 0 sobre o Panamá pelas oitavas de final, dois dias antes.

Foto: Lars Baron/Getty Images/FIFA

Camisa 12 acompanhou o primeiro tempo do banco de reservas. Foto: Foto: Lars Baron/Getty Images/FIFA

 

Na ocasião, o melhor jogador de todos os tempos havia voltado de lesão muscular sofrida na primeira partida daquele Mundial, contra o Japão. Por conta do problema, Falcão sugeriu que o melhor era ser cortado, uma vez que acreditava que não se recuperaria a tempo de jogar a fase mata-mata.

Surpreendendo a todos, ele deu a volta por cima, voltando a atuar em poucos minutos da vitória sobre o Panamá – ele chegou a fazer o último gol da goleada brasileira. Só que saiu a dor na panturrilha esquerda e entrou o misterioso problema de fundo nervoso, agravado no dia da partida contra a Argentina.

 

Marcelo Rodrigues fala sobre o emocionante jogo. Clique AQUI 

 

A recomendação dos médicos da seleção era que Falcão não atuasse contra a Argentina. Insistente, o camisa 12 assinou um termo de responsabilidade para estar em quadra. A comissão técnica concordou e ele foi relacionado.

– Esse jogo foi um dos melhores da história porque teve de tudo. E o melhor de tudo foi que teve um final feliz para nós, brasileiros. Lembro que durante a transmissão a nossa equipe temeu a eliminação do Brasil. A Argentina fez 2 a 0 e, aí, o Falcão todo empenado, todo torto, entrou e resolveu o jogo para nós. Vamos reviver essa emoção. Estou ansioso – contou o narrador Daniel Pereira.

 

O narrador Daniel Pereira relembra a partida e conta estar ansioso para a nova transmissão. Clique AQUI

 

Virada dramática

Veio o segundo tempo, e o melhor jogador de todos os tempos mostrou todo o seu lado sobrenatural mesmo sem mal conseguir piscar o olho. O Brasil pressionava, mas nada do do gol sair. Aos 10, o técnico Marcos Sorato lançou o camisa 12 em quadra. Um minuto depois, Neto acertou chute rasteiro e diminuiu para 2 a 1.

O gol motivou o Brasil, que não demorou mais de um minuto para empatar. Em jogada frontal, Falcão, sempre ele, bateu de pé esquerdo, marcando 2 a 2. 2. O Brasil poderia ter virado aos 16. Após jogada de Falcão, Fernandinho ficou livre, mas finalizou fraco, facilitando a defesa do goleiro Santiago Elias. A Argentina voltou a atacar nos minutos finais e, aos 18, Borruto chutou forte da esquerda, para a defesa de Tiago, na última oportunidade no tempo normal.

 

 Foto: Lars Baron/Getty Images/FIFA

Falcão tenta a finalização na partida contra a Argentina. Foto: Foto: Lars Baron/Getty Images/FIFA

 

Veio a prorrogação, e o jogo seguiu dramático. No início, as duas seleções adotaram uma postura um pouco mais cautelosa, principalmente o Brasil, que estava a uma falta de estourar o limite de infrações. Aos quatro minutos, Borruto recebeu na frente e bateu para fora. A resposta da seleção brasileira veio 30 segundos depois, em chute de chapa de Falcão.

No minuto final do primeiro tempo, viria o momento que seria eternizado. Após dominar na intermediária, Falcão encheu o pé, e Elias não conseguiu segurar: 3 a 2. Emocionado, o camisa 12 ficou de joelhos e chorou no momento da comemoração, numa imagem forte devido ao rosto do atleta levemente desfigurado.

 

Falcão conta os bastidores do confronto com a Argentina e como entrou em quadra mesmo debilitado. Clique AQUI

 

Estava escrita a história. A Argentina tentou correr atrás do empate no segundo tempo, mas o bom posicionamento da defesa brasileira impediu a reação dos hermanos. Nos segundos finais, Tiago ainda fez uma defesa em chute de Garcias, garantindo a épica classificação do Brasil, que viria a ser campeão mundial quatro dias depois.