Quem escreve esse texto, ainda guri, saiu do gol – e da área, pois na época era o espaço limitado a atuar do goleiro – para a linha em busca de protagonismo em quadra de escolinha de futsal. Trinta anos depois, talvez o movimento não fosse necessário, uma vez que a posição ganhou importância maior dentro das quatro linhas. O que não mudou desde então é uma curiosidade que muita gente deve nutrir ao ver os caras que escolhem a profissão que impede a felicidade do gol e ainda por cima, no dia a dia, nos treinamentos, passam levando pancada de tudo que é lado.

Afinal de contas, o que leva alguém a ser goleiro de futsal? Brincadeiras à parte, é um questionamento hoje capaz de provocar reflexão. A evolução da modalidade e a possibilidade de participar mais do jogo deu aos goleiros uma incumbência que se soma a tarefa de apenas defender.

Guilherme Mansueto

Djony, goleiro do Magnus, vem de três títulos seguidos de LNF. Foto: Guilherme Mansueto

“Tu vês o jogo do ângulo diferente, de dentro. Tu enxergas todos e tem a leitura de jogo, do ataque adversário, da tua defesa. É uma visão privilegiada e por isso orientamos taticamente os companheiros”, explica Djony, goleiro do Magnus, que tem em outro colega de função opinião parecida: “Temos o dever de orientar e falar bastante com nossos companheiros, participando ativamente tanto na defesa, que é meu foco principal defender bem, quanto no setor ofensivo, quando por vezes somos acionados”, completa Vaghetti, da ACBF.

É normal no futsal atual os goleiros serem protagonistas em seus times. Há até quem tenha fama de artilheiro. Porém, trata-se de uma cereja do bolo, pois o recheio segue sendo o de defender o time, se arriscar diariamente diante de chutes fortes, se expor ao choque a todo momento e desenvolver outras habilidades como o lançamento. Este último item, por exemplo, está ligado a uma indumentária particular de quem fica embaixo dos paus: a luva.

Ulisses Castro

Vaghetti, da ACBF, é um dos goleiro mais experientes da LNF. Foto: Ulisses Castro

“Comecei com luvas de futebol com dedos inteiros pela firmeza que dá, mas depois senti necessidade de melhorar o lançamento e essa luva não te dá contato bom com a bola. Troquei para as de futsal com os dedos cortados, mas, mesmo assim não achei que ficou bom. Depois tirei as luvas e melhorou muito a minha reposição e hoje estou adaptado a jogar sem luvas”, conta Djony, que utiliza somente esparadrapo nas articulações dos dedos da mão como proteção. “Eu me sinto mais confortável para jogar sem nada. Vai do gosto do goleiro. A gente tem essa vantagem no futsal de escolher jogar com ou sem luva” complementa Wolverine, goleiro do Pato.

A pandemia novamente adiou o início da LNF. Enquanto ela não chega, mesmo quem tem muitas disputas no currículo não vê a hora de voltar a competir. Se o grito das arquibancadas segue reprimido, o dos goleiros em cada bola defendida segue preservado como a lembrança de grandes momentos na competição.

Mauricio Moreira

Gian Wolverine defenderá o Pato nesta temporada. Foto: Mauricio Moreira

“Minha maior experiência foi minha estreia com 17 anos em 2002. É um sonho jogar a competição ao lado de grandes jogadores. Quando a LNF começa, para mim é como eu voltasse no tempo e tivesse que conquistar meu espaço com 17 anos outra vez”, garante Wolverine.

“Essa é a décima quinta que eu jogo desde 2007. Troquei de time em meio a pandemia e o barco andando. Quando se perde, se aprende muito. O Djony de hoje é muito mais experiente do que o de 2007. Estou que nem vinho, quando mais velho, melhor”, encerra o tri campeão seguido com Pato, 2018 e 2019, e Magnus, 2020.

A LNF 2021 será novamente no formato de grupos na primeira fase. Assim que houver condições de segurança para todos os envolvidos na competição, a emoção da maior competição de futsal do país estará de volta às quadras do Brasil.

 

Confira aqui explicação de cada um para virar goleiro

Djony: Desde muito novinho. Meu pai jogava bola e eu o acompanhava. Eu sabia o nome de todos os goleiros do futebol brasileiro da época. Sempre me chamou atenção a posição. Sempre incentivados por ele e sempre foi uma convicção minha jogar nessa posição.

Gian Wolverine: Veio do meu pai que foi goleiro amador em Londrina e sempre foi minha inspiração. Eu queria ser igual ele. Sempre admirei a posição também e então a minha vontade foi me espelhar nele. Sim, a gente toma muita pancada, ainda mais no futsal que é muito rápido, mas é muito gratificante quando evitamos um gol.

Vaghetti: Me tornei goleiro após uma cirurgia no joelho quando eu tinha uns 12 anos, fiquei dois anos sem poder praticar qualquer atividade física. Após isso, quando voltei a jogar, resolvi ser goleiro para não ter muito impacto do piso, onde meu desgaste seria menor. Minha intenção era voltar gradativamente aos exercícios, mas acabou se tornando uma paixão essa posição. Hoje sou realizado e tudo o que eu conquistei foi graças a minha profissão.