Entrar em quadra e jogar para um ginásio vazio é uma experiência provavelmente vivida por boa parte dos brasileiros. Nesse mesmo cenário, disputar uma partida valendo pontos por competição, no entanto, é algo novo na rotina dos atletas do esporte mais praticado no país. Novo, mas nem tanto, afinal, vive-se o segundo ano da pandemia no planeta e assim que a bola voltar a rolar, as equipes seguirão sem o calor das arquibancadas.

Paulo Sauer

Leco está de volta ao Jaraguá nesta temporada. Foto: Paulo Sauer

“Não tem como explicar. É ruim estar longe do torcedor. É como se fosse um treino, mas com as equipes com material diferente. Tínhamos o pensamento que a coisa ia melhorar. Nem quando me lesionei e fiquei um ano parado eu senti uma situação tão ruim. É rezar e ter esperança”, diz o ala Valdin, da Assoeva.

Mesmo quem tem muita bagagem nas costas e experimentou praticamente de tudo na carreira jogando futsal, reconhece que a situação atual vai além da atipicidade. Na verdade, o local de jogo sempre foi o mesmo do treino, mas a atmosfera da quadra muda completamente à medida em que artista e público deixam de se misturar.

“A primeira sensação é de que falta algo no ambiente de jogo. A torcida traz um efeito emocional para os atletas e sem ela os jogos tendem a ficarem mais racionais, tirando a graça de muitos momentos da partida”, conta Leco, que nesta temporada volta a vestir o amarelo do Jaraguá. Ao contrário das peladas de amigos Brasil à fora, as circunstâncias que envolvem o ambiente de uma partida oficial não estão ligadas somente aos 40 minutos cronometrados. A preparação para um enfrentamento começa bem antes do apito do juiz.

“Já no aquecimento o clima era outro com nossa fanática torcida no ginásio. E quando vamos jogar fora também é um clima muito diferente. Sentimos falta até da torcida adversária”, revela o goleiro Henrique, do Foz Cataratas. Questionados sobre uma possível alteração na concentração durante dos jogos, fruto do silêncio no ginásio, todos negaram taxativamente. A divergência de opiniões deu-se diante da curiosidade de atuar sem torcida e o que mais se ouve com a realidade de um ano para cá.

Nilton Rolin

O goleiro Henrique é um dos destaques e mais experientes jogadores do Foz Cataratas. Foto: Nilton Rolin

“São palavrões, mas isso é normal. O bom é que a comunicação com a equipe fica melhor sem o barulho da torcida. Mas o que mais ouvimos é palavrão mesmo” sorri Valdin, que dá a deixa para o complemento de Leco: “A parte dos sons beneficiou as equipes mais organizadas, pois a comunicação, algo fundamental na organização tática da equipe, ficou mais fácil”, completa Leco que lembra o barulho do tênis na quadra incomodando agora mais do que antes.

“Um som que eu não escutava com o ginásio cheio era o das cabines de rádio e televisão. Agora a narração de um lance mais importante como o de um gol ou um lance de perigo chega até nós na quadra”, conta Henrique, que garante também sentir bem longe das arquibancadas a energia do torcedor incentivando a equipe da única maneira possível atualmente: de casa.

A LNF irá voltar assim que houver condições seguras para todos aqueles que são mobilizados a trabalhar em uma partida, dentro e fora das quadras. Enquanto isso, confira a expectativa de cada entrevistado sobre a 26ª edição do torneio e a participação do seu time.

Simoni Helfer

Valdin seguirá na Assoeva nesta temporada. Foto: Simoni Helfer

Valdin (Assoeva)

Que comece o quanto antes, mas entendemos o que o país está passando. Que o ano possa ainda ser maravilhoso para a Assoeva como foi em 2017. Estamos querendo jogar e competir, mas com segurança para que o esporte volte com sucesso. A competição é longa, mas estamos trabalhando.

Leco (Jaraguá)

Tecnicamente acho que teremos uma edição com algumas equipes saindo já frente pelo fato de ter mantido a maioria do seu plantel, como Magnus, Corinthians e Joinville. Ainda assim espero uma competição muito nivelada e competitiva, deixando aberta qualquer previsão. O Jaraguá passa por um momento de virada de chave na parte administrativa, saindo de anos de muitas dificuldades para começar a prospectar uma equipe pronta para competir e vencer as principais competições do mundo. Estamos trabalhando duro dentro de quadra para mostrar ao torcedor que dedicação e determinação vão nos levar aos títulos. E por que não já nesse ano?

Henrique (Foz Cataratas)

A LNF está cada vez mais equilibrada, com times do mesmo nível. Nossa equipe teve uma reformulação muito grande no elenco. Temos um grupo mais jovem e com muita vontade de vencer. Nessa temporada já participamos da Taça Brasil, onde ficamos com o vice-campeonato, e em poucos dias de trabalho já mostramos a qualidade do nosso elenco. Temos uma expectativa de competir muito e fazer uma excelente LNF.