André Sanano

André Galvão e Zicky em treino de Portugal. Foto: André Sanano

A Seleção Nacional de futsal de Portugal cumpre, esta quarta-feira, o seu terceiro dia de trabalhos tendo em vista os derradeiros jogos de qualificação para o Campeonato da Europa Países Baixos 2022.

A Equipa das Quinas lidera o Grupo 8, com oito pontos (mais um que República Tcheca e Polônia) e quer manter essa posição após os dois jogos diante da Noruega, agendados para os dias 12 e 14 de abril, no Pavilhão Municipal da Torre da Marinha.

Para estes dois encontros Jorge Braz chamou 18 jogadores, entre os quais dois pivôs – André Galvão e Zicky. Apesar de nunca terem jogado juntos, os dois criaram uma grande empatia desde o dia da concentração e quem assiste às conversas entre os dois poderá pensar que se conhecem desde sempre.André Galvão e Zicky estrearam-se jovens ao serviço da Seleção, mas esta é uma das poucas coincidências entre os dois.

André Galvão: “Sou mais um para ajudar”

André Galvão cumpriu a sua primeira convocação há quase nove anos, em 15.05.2012, num triunfo diante da Bélgica, por 3-1, mas desde então jogou apenas mais três partidas de Quinas ao peito. Foi o quinto jogador mais jovem a estrear-se na Seleção principal –estava perto de completar o 20.º aniversário – e espera voltar a ajudar em campo a Seleção, agora com 28 anos. O pivô explicou os motivos desta irregularidade e deixa conselhos aos mais jovens, principalmente ao colega mais novo de posição.

“O conselho que deixo aos mais novos, principalmente ao Zicky que joga na minha posição, é para ele continuar a trabalhar, como tem feito. Vir aqui para conquistar o seu espaço, lutar por isso. Querer sempre mais, pois chegar aqui não significa que já está com o lugar garantido. Ele e todos os jovens que aqui vêm, têm de mostrar que querem cá voltar. O facto de não vir aqui muitas vezes ou vir regularmente, acho que é um pouco por causa da minha forma física. Se me disserem que de há uns bons anos para cá merecia vir à Seleção, eu diria que não. Claro que não por causa da minha condição física. Se me disserem que atualmente mereço vir cá, digo que sim. E digo que sim, porque ao nível individual a época está a correr-me super bem – ao nível da forma física estou bem e a melhorar ainda. Ao nível de clube também estamos bem.”

O bom momento que o jogador do Leões de Porto Salvo atravessa é o reflexo desta chamada, mas a convocatória de Jorge Braz para estes jogos acabou por o surpreender.

 

“Não estava à espera. Comentei até com o Pauleta – na convocatória para os jogos com a República Tcheca estava à espera e não fui; Para esta [convocatória] não estava à espera, porque, neste caso, o Zicky está muito bem – tem feito ótimos jogos, um ótimo trabalho. Não estava à espera e recebi esta convocatória com grande orgulho e com muito prazer.”

Depois de dois empates nesta fase de qualificação, André Galvão sabe que não há espaço para errar e acredita que uma Seleção portuguesa igual a si própria vencerá as duas partidas.

“[A receita para ganhar] contra a Noruega é sermos Portugal – mostrar a intensidade e a qualidade que temos.”

“Eu sou mais um para ajudar. De tantos atletas aqui estão e outros que estão fora, eu sou mais um para ajudar. Cabe-me escutar qual a tática ou perceber qual o momento em que o mister me quer colocar em campo e aí tentar ajudar com golos, com assistências, com recuperações de bola, em situações de recuperação. ”

Sobre a relação que criou com Zicky num tão curto espaço de tempo, André Galvão explicou esta amizade instantânea.

“Não nos conhecíamos, nunca tínhamos falado, nunca nos tínhamos visto a não ser no jogo. E surgiu esta amizade que se está a construir – este laço de família como se costuma dizer. O Zicky é um puto cinco estrelas que se dá a conhecer e é muito chato. Acho que é a ‘chatice’ dele que cativa as pessoas – é super engraçado e é um bom menino.

Zicky: “Levar a energia que trazemos de fora, para dentro do campo.”

Izaquel Té, mais conhecido por Zicky no mundo do futsal, estreou-se na Seleção A durante esta qualificação, a 6 de março de 2021, no empate a três bola diante da República Checa e foi o terceiro mais jovem de sempre a representar a equipa principal, sendo apenas superado Ricardinho, o mais jovem de sempre nos AA, e Afonso, que também integra esta convocatória para os jogos com a Noruega. O 149.º jogador a representar a Seleção Nacional, estreou-se com passados pouco mais de três meses de completar 19 anos*.

Bebé, um goleiro com 121 convocações, explicou que teve um grande sentimento de respeito por parte dos jogadores mais jovens, particularizando num momento em que esteve com Zicky. O fpf.pt quis perceber se este respeito de Zicky pelos mais velhos era partilhado com André Galvão.

“Respeito os mais velhos de igual maneira, mas em relação ao [André] Galvão parecia que já nos conhecíamos há mais tempo. Ele é uma pessoa a que é fácil de aceder e acho que isso permitiu termos mais confiança, entrarmos nas brincadeiras e estamos aqui como já estivéssemos estado juntos muitas vezes.”

Foi este sentimento de pertença que o jogador do Sporting sentiu aquando da sua primeira chamada à Seleção A, para os últimos jogos diante da República Checa no mês de março.

“As expetativas eram boas e vieram a confirmar-se. Fui muito bem recebido. Aqui acolhem-nos como já nos conhecêssemos há muito tempo. Parecemos amigos de longa data. Acho que esse sentimento de compaixão de um pelo outro é que os torna mais unidos e nos deixa mais à vontade para podermos jogar, interagir mais uns com os outros:”

Zicky não tem dúvidas que esta união fora de campo é depois transportada para os jogos e que se pode tornar decisiva.

“Somos muito unidos fora de campo e dentro de campo também o somos… Somos solidários uns com os outros e ajudamo-nos. Parece que já nos conhecemos há mais tempo e quando entramos em campo lutamos e estamos aqui para dar as mãos uns aos outros.”

Para o jogador luso, a receita para bater a Noruega não é diferente daquela que foi dada por André Galvão.

“Temos de ser Portugal. Nós fomos e estamos a ser alertados para os jogos que aí vêm. Sabemos da dificuldade, mas também sabemos que se formos iguais nós próprios e fiéis à nossa identidade conseguiremos as duas vitórias, sem dúvida. Para isso acontecer, temos de mostrar em campo. Não vale a pena estarmos a dizer que somos mais fortes e que se quisermos mais que somos mais forte, se não o mostrarmos em campo. Passa por levarmos a energia que trazemos de fora, para dentro do campo, porque se isso acontecer, sairemos com as vitórias que tanto queremos.”

A questão do pivô foi e é um tema muito debatida no futsal português. Zicky defende que passa pelos jogadores dessa posição – mais e menos jovens – trabalharem para mostrar potencial.

“Eu acho que o mister pode estar tranquilo no que diz respeito à nossa vontade de trabalhar e à nossa vontade de aqui estar. Não é só em relação aos mais novos – temos também aqui o exemplo do Galvão que é um pivô mais velho que nós, mas que mostra que ainda há qualidade nos pivôs portugueses – se trabalharem conseguem vir aqui. Tanto eu, como o Neves, como o Góis… há muitos outros pivôs jovens que ambicionam muito um dia estar aqui e trabalham para isso. As expetativas em nós são elevadas, mas de nada adianta dizer que nós somos o futuro, se não trabalharmos para isso.