A chegada de jovens jogadores do time profissional do Corinthians em 2021 não é apenas uma vitória de suas famílias e dos membros do departamento de formação do clube. Mas também do futsal. Técnico da categoria sub-18 do Timão e com dez anos de futsal no clube alvinegro, Daniel Magalhães vibra com cada conquista dos garotos que viu crescer dentro do Parque São Jorge.

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Do elenco atual, passaram por suas mãos o goleiro Matheus Donelli, os laterais Lucas Piton e Guilherme Biro, o volante Roni, os meias Vitinho e Gustavo Mantuan e o atacante Rodrigo Varanda.

Os exemplos geram inspiração nas crianças do clube, que sonham em ter o mesmo destino:

– Este espelho já vem da época do Malcom, do Marquinhos, e mais atrás com Fagner e Jô. Hoje nossos jovens já olham para esses meninos, Biro, Piton, Roni, Donelli e Varanda. Espero formar mais jogadores, fazer mais histórias dentro do clube. Isso nos engrandece, minha função é formar jogadores vencedores na vida e no esporte – contou Daniel, que já tem 21 anos de estrada na categoria.

 Arquivo Pessoal

Matheus Donelli, goleiro do Corinthians, nos tempos de futsa. Foto: Arquivo Pessoal

Com 41 anos, o treinador vivenciou diversas situações ao lado dos garotos dentro do clube. E tem em Lucas Piton um exemplo de persistência.

Reprovado num teste para o campo aos 13 anos, o garoto foi integrado ao futsal, campeão mundial em 2018 aos 16 anos e só então levado ao campo.

– Uma das maiores referências do Corinthians no futsal foi o Malcom. Ele chegou no Corinthians aos dez anos, jogava futsal e futebol, jogou até os 15 no futsal, e deixou claro que não tem a idade certa para ir para o campo. Claro que quanto mais cedo for, vai se aclimatar mais rápido e entender o processo, mas hoje sabemos que não precisa ir muito cedo. Não passar num primeiro momento não é o fim. Lucas Piton é o maior exemplo. Aos 13 anos ele não foi aprovado no futebol, eu trouxe ele aos 14 para o Corinthians no futsal, ele viveu um processo até ir ao campo aos 16. Às vezes a maturação é tardia, e nosso departamento enxerga isso – destacou o profissional.

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Daniel Magalhães, técnico do time sub-18 do futsal do Corinthians. Foto: Arquivo Pessoal

Abaixo você confere histórias dos garotos que passaram pelo futsal e hoje brilham no campo:

Diferentemente de muitos garotos, Lucas Piton foi quem teve a transição mais tardia para o campo., chegando apenas no sub-17, aos 16 anos. Como vê essa situação?

Daniel: Temos ele como exemplo do trabalho que é desenvolvido, nossa modalidade também é um processo formador de jogadores. Lucas Piton é um caso atípico. Quando ele tinha 16 anos nós disputamos um Mundial Sub-18 na Espanha, eu o convoquei para aquele Mundial, ele já era um atleta que nós enxergávamos com potencial para o futsal. E ele com 16 anos me confidencia numa conversa que gostaria de fazer uma avaliação no futebol.

– E eu como funcionário do clube, como formador, conversei com o treinador do futebol, ele passou uma semana treinando com o Leandro (Mehlich) e foi aprovado. E aí teve essa ascensão, logo chegou ao profissional. O futsal é importante neste processo, e é o que o Brasil tem de diferente dos outros países. O atleta é inserido no futsal desde a infância e chega no futebol com uma diferença cognitiva e técnica em relação aos outros.

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Lucas Piton, lateral do Corinthians, nos tempos de futsa. Foto: Arquivo Pessoal

O que esses jogadores trazem do futsal?

– Para você ver a importância, o Matheus Donelli foi campeão mundial com a seleção brasileira sub-17 e o diferencial dele era saber trabalhar com os pés. Uma situação que ele evoluiu muito, ele tinha dificuldade quando era criança e desenvolveu. O diferencial é essa resposta cognitiva. Hoje o treinador quer que o atleta venha com uma carga de cognição para chegar resolvendo os problemas. A técnica e o talento eles têm. O atleta trabalhar com o pé direito e com o pé esquerdo, saber defender e atacar, são situações que ele a todo momento enfrenta no futsal. São o diferencial, a carga de cognição e a intensidade do jogo. Por isso esses meninos estão inseridos no profissional do Corinthians.

Rodrigo Varanda já se destacava quando garoto?

– Lembro dele com 10 anos no sub-11, no primeiro ano da categoria, fizemos um jogo em Diadema contra uma equipe famosa, que é a equipe da Mercedes, o jogo estava enroscado, a gente perdendo por 3 a 1. Então olhei para o banco, vi ele com brilho no olho, coloquei e ele arrebentou. Ganhamos de 4 a 3, ele fez os três gols, em um que até deu um chapéu num menino. Aí depois veio com personalidade falando: “Olha aí, Daniel, tá vendo? Eu tinha que jogar”. Aos 10 anos ele já tinha esse brilho no olho.

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O sonho do Lucas Piton era o campo?

– Uma vez eu estava indo embora do treino no clube e vi ele mancando. Ele treinou machucado, não falou pra ninguém e estava indo embora para o metrô andando. A distância é de 1,5km. Falei: “Onde você vai? Por que não avisou que estava machucado?” E ele falou que queria jogar. Lembro que liguei pro pai dele, o Zé, e disse que ia levá-lo em casa, ele morava na casa de uma tia dele. E nessa conversa no carro ele já contava do sonho de jogar futebol. Eu dizia que o futsal podia ser uma ponte.

Como era a relação com os outros?

– Com o Gustavo Mantuan a gente teve várias passagens, lembro que minha equipe técnica substituiu ele num jogo, e a mãe desceu da arquibancada reclamando (risos). A gente explicava que fazia parte do processo. É um menino maravilhoso, os pais também são.

– Roni lembro que fez um gol de bicicleta na Federação, com dez anos, um gol que ficou para a história. Biro era um menino bem individualista, conduzia muito a bola e a gente cobrava que ele fosse mais coletivo, que desenvolvesse o jogo de tabela. E aí num jogo ele sai arrastando, dribla todo mundo e faz o gol. Era um indisciplinado criativo (risos).

– E tivemos o Vitinho, que jogou dos seis aos 14 anos com a gente. Ele é destro, aí os caras marcavam ele na direita e ele fazia os gols de esquerda. Ele tinha essa qualidade para finalizar com o pé ruim. A gente tem muita história, muito aprendizado e isso fica de legado para as próximas gerações. Que a criança acredite que tem condição de chegar.

Eles viraram inspiração dentro do clube?

– Sim. Hoje com a pandemia, do sub-7 ao sub-18 estamos fazendo atividades online. Minha categoria treina todos os dias com a preparação física e a fisiologia. E aí fazemos alguns bate-papos, levamos ex-jogadores do futsal que estão no futebol para palestras. Já tivemos o Donelli, o Piton também. Temos uma ação para trazer o Rodrigo Varanda, meninos que estavam há pouco tempo na quadra. Queremos Fagner e Jô para também participar.

Do Fagner e do Jô você não foi técnico, né?

– (Risos) Não, mas é muito engraçado. Tenho dez anos de Corinthians, comecei como técnico aos 20. Quando eles estavam no futsal, eu estava iniciando a minha carreira nos estudos. Jô é cinco anos mais novo que eu. Eu era treinador de outra equipe, e o Jô já jogava futsal, todo jogo que ele entrava ele era decisivo. Fagner, que fez uma história no futsal do Corinthians, e Jô seguiram a carreira como jogadores, e eu como nunca fui um diferenciado comecei a carreira cedo como treinador.