No começo da LNF eram seis catarinenses. Desde esta terça-feira restam apenas dois, e sem nenhuma surpresa. Jaraguá e Joinville estão nas quartas de final, a etapa em mata-mata que leva à disputa do troféu máximo da modalidade no Brasil. A situação não é de hoje e também demonstra a solidez que o esporte tem na região Norte de Santa Catarina – as cidades-sede dos times distam 35km. O aporte financeiro de empresas fortes e locais contribui decisivamente na viabilização de projetos que prevê contratos com jogadores significativos, mas sobretudo há tradição.
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Jaraguá que o diga. Até 2010 foi considerado um multicampeão, com quatro títulos da Liga em 10 anos, disputa de campeonatos mundiais e conquistas de Libertadores da América. Era subsidiada por uma grande empresa do ramo têxtil, a Malwee, da cidade de origem para bancar salários de astros, como Falcão, Lenísio e Tiago. Porém, a cultura da modalidade estava arraigada ainda antes do início da considerada década de ouro.

A cidade era de deter bons times, competitivos, e que semearam o que viria a ser o primeiro esporte da cidade, até órfão de equipe mais expressivas no futebol de campo.

– Haviam excelentes equipes antes de 2001, com campeões estaduais, e foi uma progressão. O investimento ocorrido foi um passo maior, uma tentativa de conquistar o Brasil, como novo patrocinador. Hoje há bom público em jogos nossos na Arena Jaraguá, mas há relatos de grandes platéias em partidas no ginásio anterior, o Arthur Müller, que enchia. A equipe tomou um formato grande em nível nacional. Acho isso, particularmente, por não ter um time de ponta no futebol profissional: há o Juventus que tem oscilado entre a primeira e segunda divisão e o Jaraguá que ainda está na terceira do estado. Jaraguá do Sul adotou o futsal como esporte de ponta, a paixão virou para a modalidade. Mesmo quando há um jogo que não desperte tanto o interesse, a média é de três mil na Arena. A cidade pegou o futsal e o abraçou – descreve o supervisor do Jaraguá, Kleber Rangel.

O futsal em Joinville, porém, tem situação diferente. A modalidade principal no maior município catarinense é da bola maior e mais leve, com o Joinville Esporte Clube, que neste ano disputa a primeira divisão do futebol nacional. Porém, o público gosta de bola pesada e não são poucos que também apoiam a equipe joinvilense das quadras – no triunfo sobre a Alaf, na última segunda-feira, o goleiro Agenor estava na plateia. Têm motivo: desde 2009, quando o patrocinador, a Krona, atual se tornou o principal e investiu mais, só não chegou ao mata-mata em apenas um edição da Liga e o conjunto chegou a ser vice 2012.

A equipe que joga na quadra do Centreventos Cau Hansen é subsidiada por uma das grandes empresas do município. A fabricante de tubos e conexões, inclusive, é patrocinadora também da LNF. O aporte financeiro faz diferença e agrega jogadores reconhecidos da modalidade. Isso se estende à comissão técnica, atualmente capitaneada por Vander Iacovino, com dois título mundiais como capitão da seleção brasileira da modalidade ainda como jogador. A companhia segue um modelo de investimento que se assemelha ao da empresa patrona do vizinho Jaraguá em seu período dourado.

Para Vander, a força no futsal está nas regiões sul e sudeste do país pelo mesmo motivo que Joinville tem um bom time: empresas sólidas para investir em visibilidade por meio do esporte e que o tempo aprofunda o abismo entre os times.

– Precisa de um projeto em que o patrocinador acredite e custeie tudo isso para que haja o investimento. Ainda que o custo para uma equipe de alto rendimento seja alto, fica mais viável por você se locomover para jogos em cidades mais próximas. A maioria das equipes vai aos jogos de ônibus, uma vez ou outra viaja de avião, quando há uma distância grande. O apoio das empresas vai procurar visibilidade, que está na Liga Nacional. Fica difícil neste momento ter times de outras regiões. Gostaria de ver times tradicionais do Nordeste disputando uma Liga Nacional – confessa o hoje treinador, que chegou a jogar no outro lado do país em uma época bem diferente da atual.

Nos últimos cinco anos, outras equipes de Santa Catarina figuraram na fase decisva da Liga. Em 2013, o Concórdia chegou a ser finalista, Florianópolis parou em semifinal em 2012 e o Blumenau ficou pelas quartas do ano passado.Talvez, pontos fora da curva, frutos do encaixe quando formados os plantéis. Joinville e Jaraguá foram bem mais assíduos no mata-mata no período.

Não à toa foi formada e fortalecida uma (benéfica e saudável) rivalidade entre os dois times. Justamente do Norte do estado, consolidada como a região de futsal de alto rendimento. Se assim seguir, a dupla ainda poderia ter uma nova companhia.

– O Jaraguá não seria a equipe de Jaraguá se não tivesse um time forte em Joinville, e ainda tenha a rivalidade responsável com Blumenau, importante e respeitável. Tanto Joinville como a equipe de Blumenau também são importantes. Se o Avaí contratar um grande jogador, o Figueirense poderia fazer o mesmo, para não ficar distante. O mesmo ocorre no futsal, se Joinville contratar um atleta com nome de impacto, Jaraguá vai ser cobrado por um do mesmo nível – ratifica Rangel, dirigente da equipe de Jaraguá.

Essa rivalidade entre os dois times vai ocorrer em mais um mata-mata, mas a distância. O Jaraguá vai enfrentar o Sorocaba na quartas de final, enquanto o Joinville tem o Corinthians como adversário. Um encontro entre os dois times só poderia ocorrer nas finais. As quartas de final iniciam na sexta-feira.

Notícia: João Lucas Cardoso
Imagens: Henrique Porto/ Agência Avante!/ João Lucas Cardoso