Neste domingo (01/09), o Sport Club Corinthians Paulista completa mais um aniversário: 109 anos. Para celebrar, trazemos algumas entrevistas especiais com personagens marcantes na história corinthiana. Um deles é Vander Carioca, ex-jogador de futsal. Ídolo do clube, ele chegou ao Parque São Jorge já no fim de carreira. Mas reconhece que a sua personalidade foi fundamental para criar a identificação com o clube e a torcida, que fez com que ele se tornasse um dos grandes nomes da modalidade no Alvinegro.

Rodrigo Coca

Vander foi um dos destaques do título em 2016. Foto: Rodrigo Coca

Confira:

Qual era sua impressão sobre o Corinthians antes de jogar no clube?

Cara, eu já tinha enfrentado o Corinthians várias vezes, então sabia que era um time massa. Eu nasci numa comunidade no Rio de Janeiro e eu me identificava com o Corinthians, a torcida era diferente. Eu falo que cheguei tarde aqui, devia ter vindo antes. Cheguei velho, mas sempre tive um carinho muito grande pelo time, gostava de jogar contra e queria ter essa torcida do meu lado. E graças a Deus eu consegui.

 

Como foi sua vinda para o Corinthians?

Eu tive uma proposta para jogar aqui em 2012. Eu jogava no Joinville-SC, o treinador era o Miltinho, e eu acertei tudo, mas no fim o time não liberou. Eu tinha contrato de mais um ano e me arrependo disso até hoje, na época eu estava voando, em grande forma. Depois, eu parei de jogar em 2015 e fui ao Rio de Janeiro, meu pai estava com problema de saúde, e então eu passei um ano jogando jogar Futebol de 7. Em 2016, quando o Ferreti assumiu o comando do Corinthians, o Deives chegou ao clube e falava para mim: “Vem jogar no Corinthians, é a sua cara”. Ainda bem, porque em 2016 tive outra proposta, deu tudo certo e eu vim jogar aqui no clube.

 

Como você define sua passagem pelo Timão?

Foi meu último clube e o que mais me marcou. Eu acho… Não, eu tenho certeza que sou corinthiano desde criança. Eu sempre fui Vascaíno, mas o Corinthians entrou na minha vida como um grande amor, uma grande paixão, é diferente minha vida antes e depois do Corinthians. Hoje eu amo o Corinthians, eu sou realizado aqui. Queria ter jogado um pouco mais, mas o corpo já estava pesando… Mas a minha maior tristeza quando disseram que eu não iria renovar o contrato era sair daqui, sair desse convívio, sair desse clube. Então quando surgiu o convite para continuar trabalhando aqui eu logo aceitei. Eu sou feliz aqui, eu amo o Corinthians.

 

O Alvinegro foi o último clube da sua carreira vitoriosa, aqui você é considerado um dos maiores ídolos do Timão. Você esperava alcançar essa idolatria nesse estágio da carreira?

Por eu ter nascido de uma comunidade, vir de onde eu vim, conseguir vencer apesar das dificuldades… Eu passei por outros clubes de camisa, joguei no Atlético Mineiro, joguei no Vasco, joguei no Flamengo, mas minha identificação com o Corinthians foi muito grande.  Acho que eu sou um torcedor, a idolatria foi porque eu era um torcedor dentro de quadra, nunca fui o melhor, mas eu não gostava de perder. E a alma corinthiana é essa, o torcedor corinthiano é assim. Havia vezes que eu não tinha mais forças, mas mesmo assim eu ia até o final, eu lutava, dava a vida para o clube. Por isso se criou essa identificação. Hoje eu sou muito mais reconhecido como ídolo corinthiano do que de qualquer outro clube, tenho certeza disso.

 

O Corinthians tem uma história vitoriosa, mas 2016 com certeza foi um dos melhores anos da modalidade, com o título da Liga Paulista e o inédito da Liga Nacional. Como foi esse ano?

Esse ano foi diferente, foi um ano em que o Corinthians enxugou a folha salarial, nossa apresentação foi simples, e a gente nem era considerado favorito. O clube havia montado vários times que lutaram pelo título, e neste ano éramos considerados uma equipe coadjuvante na briga. Eu escuto muito dos ex-companheiros de time que minha chegada mudou o astral da equipe. No vestiário eu gosto de ser um cara que agrega, e isso foi um diferencial, muitos amigos meus até falam: “Você mudou o vestiário, fez a gente acreditar que pode ser campeão”. Isso eu falava ainda em fevereiro, chegava no Guitta e falava “A gente vai ganhar a Liga”, e ele achava que eu estava louco. Mas críamos uma família, aquele grupo era muito unido e eu tentava promover isso, acreditava que as vaidades tinham que ficar de fora.  Acredito que ajudei o time a conseguir, acho que naquele ano fui mais importante fora de quadra do que dentro dela. Colocamos o título como objetivo principal, à parte de qualquer título individual.

 

Qual foi o momento mais marcante para você em sua trajetória no Timão?

Considero dois momentos. Infelizmente um… Parece que nosso clube é marcado por essas coisas… Foi quando o Guitta perdeu o filho dele, eu recebi a ligação na minha casa e foi muito difícil… Lembro que estávamos a poucos dias de disputar a semifinal da Liga contra o Assoeva, e aquilo foi um baque muito grande para todos nós, ninguém está preparado para uma tragédia dessas. Nós sofremos muito, muito mesmo, tentávamos reergue-lo de qualquer maneira, foi um momento difícil e infelizmente, marcante. O Momento positivo foi com certeza a final, o Parque São Jorge lotado, eu sempre me arrepio quando falo disso, é um filme que não sai da minha cabeça. O Ginásio lotado e agente conquistando o tão sonhado título, que a gente bateu na trave tantas vezes antes, e conseguimos conquistar. Isso está marcado na minha vida, foi inesquecível.

 

Como é jogar com o Ginásio lotado? Muitos conhecem bem a torcida do Corinthians no estádio, mas como é na quadra?

O corinthiano é diferente. Eu falava bastante isso quando cheguei no clube, nós éramos o único clube que tínhamos torcida dentro e fora de casa, qualquer lugar que a gente ia, tinha torcedores corinthianos. Não importava se eram 15 ou 20, eles faziam um barulho impressionante, é diferente. Então imagina jogar no Wlamir Marques com 7 mil pessoas? É uma energia impressionante, eu me pegava no banco cantando músicas da torcida. O corinthiano é diferente, o Corinthians é diferente, só quem jogou aqui sabe o que é isso. Eu queria jogar mais dez anos nesse clube, só por essa energia… Eu falo e fico até emocionado, é um clube diferente, uma paixão sem explicação.

 

Hoje você se tornou Supervisor do time Sub-20 do Timão. Você aceitou a vaga pela identificação com o clube? Você pretende ficar muito tempo na função?

Eu não estava preparado para parar de jogar, mas eu imaginava que quando parasse de jogar eu queria trabalhar na área de supervisão.  No final da minha carreira eu já ajudava muito os jovens e me identificava muito com isso, já era uma coisa que eu queria não para esse ano, mas já imaginava. Quando veio esse convite, no primeiro momento, minha maior tristeza era que eu não ia mais vivenciar o clube, não ia participar mais do Corinthians, então foi bom, hoje eu acompanho o time e consigo sentir emoção, comemoro com eles. Minha tristeza era a ideia de sair do Corinthians. Eu pensei muito, eu tinha propostas para jogar em outros clubes, mas eu estava tão feliz aqui que eu analisei a proposta com a minha esposa e decidi muito rápido. Eu estou me preparando a cada dia para melhorar. E até quando eu quero ficar no Corinthians? Minha vida inteira, eu espero ficar anos e anos e só sair daqui bem velhinho.

 

O que o Timão representa pra você?

Hoje o Corinthians é minha vida, minha história, meu amor. Eu não me vejo longe do Corinthians, eu tenho prazer de estar toda manhã no clube, de trabalhar aqui, de ter feito parte da história do clube… Corinthians pra mim é tudo, eu amo este clube.