Se você tem menos de 30 anos um aviso: não estranhe o que vai ler por aqui, principalmente as siglas e nomes de muitos países. Nesse especial pré-Mundial 2016 falaremos das três edições da Copa do Mundo de Futsal, ou melhor, do Campeonato Mundial de Futebol de Salão, que aconteceram na chamada ‘Era FIFUSA’. Sim, houve um tempo em que o Futsal não era sequer olhado pela FIFA e durante esse período de vácuo quem mandava no esporte era a Federação Internacional de Futebol de Salão ou simplesmente FIFUSA.

Divulgação UEFA

Entidade realizou os primeiros Mundiais antes da FIFA se interessar pela modalidade

Sediada em São Paulo, a FIFUSA foi fundada em 1971 numa inciativa conjunta da Confederação Sul-Americana de Futebol de Salão e da Confederação Brasileira de Desportos. Em sua ata de fundação constam as assinaturas de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Peru, Bolívia e Portugal. O primeiro presidente da entidade foi João Havelange, que nunca exerceu de fato a função, pois na mesma época disputava (e depois conquistou) a presidência da FIFA. Sendo assim Luiz Gonzaga de Oliveira Fernandes, secretário-geral, foi de fato o mandatário inicial da entidade nesse período.

O esporte começou a se desenvolver e crescer na década de 80 sob o comando de Januário D’Alessio Neto, outro dirigente brasileiro com forte ligação com o Palmeiras. D’Alessio criou competições como o Campeonato Pan-Americano de Futebol de Salão de 1980, sediado no México e vencido pelo Brasil. Após o sucesso desse evento, foi criado ainda na gestão de D’Alessio o Campeonato Mundial de Futebol de Salão.

Divulgação AMF

1º Mundial

A primeira edição do Mundial aconteceu em 1982, no Brasil com 10 seleções, divididas em duas chaves de 5, teve todos os jogos disputados no Ginásio do Ibirapuera em São Paulo. O Brasil, que já dominava o esporte naquela época não teve dificuldades em vencer o torneio com uma campanha perfeita. Na primeira fase, jogando pelo Grupo A foram 4 vitórias: 5×0 na Argentina, 14×0 em Costa Rica, 4×1 na Tchecoslováquia (hoje dois países separados: República Tcheca e Eslováquia) e 5×1 no Uruguai. Na Chave B ficaram Paraguai, Colômbia, Holanda, Itália e Japão.

Na semifinal o adversário foi a Colômbia e o resultado 4×1 pro time verde-amarelo. A decisão daquela edição aconteceu no dia 6 de junho de 1982 contra o Paraguai, que no período FIFUSA foi o grande rival brasileiro. O resultado magro de 1×0, gol de Jackson garantiu a primeira taça ao Brasil. Abrindo caminho para o domínio do esporte e os olhos da FIFA para a modalidade.

O segundo Mundial aconteceu na Espanha em 1985, mas por pouco não saiu do papel, pois a FIFA já tentava naquela época assumir o controle da modalidade. Infelizmente para os amantes do esporte a forma escolhida foi à pressão. Primeiro houve ameaça de realização de um torneio mundial com selo oficial da gestora do Futebol, em seguida veio a proibição de uso da palavra futebol por outras entidades que não a própria FIFA o que levou a FIFUSA a contrair o nome do esporte para fut-sal (com hífen mesmo).

Divulgação AMF

2 Mundial

A resistência foi premiada com o aumento do Mundial para 12 seleções. Elas foram divididas em 3 grupos, no “A” ficaram Brasil, Argentina, Japão e Holanda. No “B” Espanha, Austrália, Canadá e o Uruguai. O Grupo “C” teve as presenças de Paraguai, Tchecoslováquia, Portugal e Costa Rica. As ausências em relação a 1982 foram Colômbia e Itália, em compensação Espanha, Austrália, Canadá e Portugal debutaram em mundiais de futsal em solo espanhol.

Novamente o Brasil fez campanha perfeita na primeira fase, dessa vez com 3 vitórias em 3 jogos disputados: 11×0 na Argentina, 16×0 na Holanda e 15×1 no Japão. Na segunda-fase, agora ampliada para seis equipes divididas em 2 grupos o time canarinho ficou no Grupo 2 junto de Paraguai e Uruguai enquanto o Grupo 1 foi composto por Espanha, Argentina e Tchecoslováquia. Nessa etapa o time brasileiro de novo obteve todos os pontos possíveis com duas vitórias de 2×0 contra o Uruguai e 1×0 contra o Paraguai.

Na decisão o time brasileiro teve seu primeiro encontro com aquela que se tornaria seu grande rival a partir dos anos 2000, a Espanha. Mas com gols de Douglas, Jackson e Mauro o time abriu 3×0. A Fúria diminuiu no segundo tempo, mas o 3×1 garantiu o bi-campeonato invicto para a Seleção Brasileira que por pelo menos mais 3 anos dominaria o esporte. Ainda em 1985 a FIFUSA elegeu a Austrália como sede do Mundial seguinte, a ser disputado em 1988.

Novamente houve pressão da FIFA para esvaziar o evento e assim como em 1985 a pressão teve efeito contrário. A primeira fase da competição foi disputada por 16 seleções nacionais divididas em 4 Grupos. No A, ficaram: Uruguai, Austrália, Itália e Hungria. No B estavam Paraguai, Portugal, Inglaterra e Canadá. No C, duelaram: Espanha, Argentina, Costa Rica e Nova Zelândia e no D estavam Brasil, Tchecoslováquia, Estados Unidos e Japão.

Divulgação AMF

3º Mundial

Como nas edições anteriores o time verde-amarelo passou da primeira fase voando, com 3 vitórias por 29×1 contra o Japão, 12×0 contra os Estados Unidos e 11×1 contra a Tchecoslováquia. Na segunda fase o time brasileiro foi pareado com Paraguai, Austrália e Argentina no Grupo B. Novamente 3 vitórias por 10×2 contra a Argentina, 5×0 contra a Austrália e um apertado 2×1 contra o Paraguai.

Na semifinal o adversário foi Portugal e o resultado um 5×1 a favor do time que tinha em Ortiz seu grande nome naquela geração. A decisão em 30 de outubro viu um replay de um confronto da segunda fase entre Brasil e Paraguai e uma devolução de placar por 2×1 que acabou com uma invencibilidade brasileira que durava desde 1957. Assim o Paraguai se tornou o último Campeão Mundial FIFUSA.

Três meses após o fim do Mundial FIFUSA na Austrália a FIFA realizou seu primeiro Mundial de Futsal na Holanda. Nessa competição o Brasil foi representado pelo time de um banco privado porque a CBFS ainda estava filiada a antiga gestora da modalidade. Naquele ano houve 3 reuniões com objetivo de fundir as duas entidades, a primeira em 19 de janeiro, a segunda em 14 de março e a terceira em 5 de setembro.

Em todas essas reuniões a sinalização era positiva em relação à união que faria da FIFUSA um departamento independente ligado a FIFA. A reviravolta aconteceu em 23 de setembro durante o Congresso Extraordinário da antiga gestora do esporte onde a maior parte das afiliadas rejeitou a fusão. Essa negativa fortaleceu a FIFA e após a saída da CBFS várias federações nacionais abandonaram a antiga gestora.

A FIFUSA acabou sendo dissolvida no começo dos anos 2000 devido a insatisfação de alguns associados remanescentes. Em seu lugar surgiu a PANAFUTSAL, Confederação Pan-Americana de Futsal – que manteve os atritos com a FIFA – e depois a AMF, Associação Mundial de Futsal. Tais sucessoras continuaram realizando edições de seu Mundial de Futebol de Salão inicialmente a cada 3 anos e a partir de 2003 a cada 4 anos.

No Mundial paralelo da AMF/FIFUSA, que tem regras diferentes do Futsal FIFA o domínio do esporte pertence à Colômbia, que venceu as edições de 2000, 2011 e 2015 e ao Paraguai com os títulos de 1988, 2003 e 2007. Portugal, Argentina e Venezuela completam o quadro de campeões com uma conquista cada. Agora representado pela Confederação Nacional de Futebol de Salão o Brasil não passa de um coadjuvante no mundo paralelo do futsal.

Para finalizar é devido a essa continuidade do campeonato AMF/FIFUSA que a FIFA não permite que o Brasil utilize 7 estrelas acima do escudo em sua camisa, considerando portanto, o país apenas Pentacampeão Mundial de Futsal.