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Depois de levar o Kairat, do Cazaquistão, a uma das potências do futsal mundial, treinador brasileiro assume a seleção do Kuwait. Foto: Divulgação

“Todo ciclo tem seu fim”. A frase serve para diversas situações e no futsal não é diferente. Depois de mais de uma década de dedicação ao FC Kairat Almaty, do Cazaquistão, o técnico Ricardo Sobral, o Cacau, se despediu do clube no início do ano e agora se prepara para encarar um novo desafio. O potiguar assumiu recentemente a seleção de futsal do Kuwait, país do Oriente Médio. Bicampeão europeu (2013 e 2015) e uma vez mundial (2014) com a equipe cazaque – além de ter sido eleito o segundo melhor técnico de clubes e terceiro de seleções no mundo em 2017 -, a expectativa é de ampliar a galeria de títulos. Movido a desafios, como o próprio diz, o treinador se mostra empolgado com a oportunidade.

– Tive muitas propostas, até tentadoras, mas escolhi o Kuwait pelo desafio. Confio muito na minha capacidade e espero que consiga realizar um bom trabalho, ajudar o futsal de lá a evoluir. Tinha muitos convites de clubes e até seleções, mas aceitei o convite do Kuwait. É um país que tem o calendário cheio e investe muito na base. Espero, quem sabe, estar na próxima Copa do Mundo com a seleção – explicou Cacau, que comandou a República Tcheca, em 2012, e o Cazaquistão, no último Mundial, em 2016.

Sportsfile UEFA

Cacau levanta troféu de campeão pelo Kairat ao lado do também potiguar Joan. Foto: Sportsfile UEFA

Foram, ao todo, 11 anos e meio defendendo as cores do FC Kairat Almaty, do Cazaquistão – cinco anos e meio ainda como jogador profissional e outros seis como treinador da equipe. Cacau destaca o salto que o Cazaquistão deu no cenário mundial após o início de seu trabalho. A revolução – e consequente evolução – causada no futsal cazaque levou a seleção local das 37ª e 43ª posições nos rankings europeu e mundial, respectivamente, para a quarta posição no continente e sétima em todo o planeta. Com ele, o país conquistou o terceiro e o quarto lugares nas duas últimas edições do Campeonato Europeu de Seleções, classificando a equipe pela primeira vez a um Mundial.

– Depois de tantos anos, existe um laço de amizade muito forte, uma ligação entre minha pessoa e o país. Não só com o clube, mas com a seleção do Cazaquistão. Ao longo dos anos, adquiri respeito, consegui coisas impossíveis para o futsal do Cazaquistão. Fizemos história por levar o Cazaquistão a tão longe. Conseguimos vitórias importantes e isso foi um marco que deixei, um legado no futsal do Cazaquistão. Tudo que fiz no Cazaquistão me fez tomar essa decisão de querer algo diferente – comentou o técnico.

Augusto Gomes

Cacau celebra valores locais, mas lamenta falta de estrutura do futsal do RN. Foto: Augusto Gomes

O trabalho expressivo ao longo dos anos também rende reconhecimento. Como o próprio Cacau revelou no início da entrevista, antes de aceitar o convite para assumir a seleção do Kuwait, outras propostas surgiram. E o técnico não descarta um outro acerto para subir alguns degraus na carreira, seja em um clube do patamar de Barcelona ou Inter, potências mundiais, ou até mesmo outra seleção, desde que haja um entendimento entre as partes, mas afasta a possibilidade de acumular trabalhos.

– Por enquanto, vou só treinar a seleção do Kuwait. Tenho várias sondagens da Europa e alguns clubes me pediram para esperar até junho para tomar uma decisão, porque estão jogando finais de campeonatos. Eu disse que, se tiverem interesse e a oferta de trabalho for melhor, entra em acordo, paga a multa e posso ir para a Europa, mas a expectativa é treinar a seleção do Kuwait e só ela – esclareceu.

“Não deixem o nosso futsal morrer”

Referência como técnico em todo o Norte-Nordeste, Cacau ainda se mostra incomodado e faz um desabafo ao comentar a situação atual do futsal do Rio Grande do Norte, que praticamente não possui calendário e vê suas principais praças esportivas sem receber eventos. O técnico reconhece ainda o potencial formador de atletas que o estado tem, prova disso atualmente é o fixo Douglas Júnior, destaque do Kairat e que está prestes a se transferir para o Barcelona.

– Peço às autoridades competentes, ao presidente da federação e aos amantes do futsal para que não deixem o nosso futsal morrer. Temos talentos aqui incríveis, como o Joan, Ricardinho (que joga no Sorocaba), Dentinho, Pedrinho, meu filho Ricardinho está jogando a final da liga da Eslováquia com apenas 19 anos. Douglas hoje é a maior referência no RN, melhor beque do mundo e que se consolidou no cenário mundial. Temos o celeiro, só precisamos ter mais campeonatos, calendário coerente. O DED, o Nélio Dias e o Palácio dos Esportes não estão sendo usados para nada – encerrou.