A eliminação do Brasil para o Irã nas oitavas de final não marcou apenas a pior campanha brasileira em Copas do Mundo de Futsal, mas também a despedida de Falcão dos Mundiais. O craque disputou cinco edições do torneio, conquistando duas vezes o título e uma vez o vice, além de ter sido o melhor jogador da competição duas vezes e artilheiro em uma oportunidade. Aos 39 anos, Falcão não tinha mais nada para provar a ninguém. Mas ele queria.

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Brasil lutou muito mas não conseguiu a vaga. Foto: FIFA

O craque se preparou durante todo o ano para disputar a sua última Copa do Mundo. Falcão queria provar para si e para o futsal que ainda era capaz de disputar uma competição de tão alto nível e queria ser convocado apenar se estivesse em condições de estar com a seleção. Por isso, o camisa 12 rechaça também qualquer tipo de insinuação ou crítica em relação à sua influência na seleção brasileira.

– As pessoas que falam “seleção do Falcão” geralmente são parentes de alguém, primo do que não foi, ou torcedor do time. Por que quantos amigos meus ficaram de fora né? O Bateria e o Diego são dois com quem eu acho que eu nunca tinha conversado. O Diego eu encontrei praticamente só aqui. Então não tem cabimento falar que é “seleção do Falcão” porque quem convoca é o Serginho. E eu sempre deixei claro que eu só queria estar na seleção se estivesse em condições. Eu também tinha esse compromisso particular de mostrar pra mim e para o futsal que eu estava em condições de estar aqui. E acredito que isso foi provado. Eu fiz muitos planos, me preparei, não por vinte dias, um mês, mas durante todo o ano. Joguei o mínimo de jogos possíveis para estar aqui nas melhores condições como eu estava – afirmou.

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Tentou de tudo no jogo da eliminação. Foto: FIFA

Autor de três gols no empate contra o Irã por 4 a 4, Falcão acredita que a seleção podia chegar mais longe do que foi. Entretanto, o craque reconhece que o futsal mudou e, por isso, a a seleção precisa de mais tempo para ficar bem preparada para a disputar da Copa do Mundo.

– Nós podíamos mais. Eu me preparei para jogar sete jogos. O defeito do Brasil foi que nos últimos Mundiais sempre nos preparamos 20 dias antes e fomos campeões ou chegamos na final. E hoje em dia não é mais assim. Sempre falta um trabalho ou outro. Tem que priorizar uma coisa e deixa de fazer outra. A nossa marcação de goleiro linha, quase não tivemos tempo de fazer. E é um detalhe técnico que faz a diferença. Achamos que não íamos usar agora e tivemos que usar. Acabamos tomando dois gols assim. Não dá para culpar o Serginho ou qualquer outra pessoa. É um tempo curto de preparação. (…) Tem que detalhar o ataque de goleiro linha, não deu tempo de treinar marcação. É muita coisa para apenas quinze dias. A Colômbia mesmo está treinando direto desde janeiro como se fosse um clube – disse.

Reverenciado ao final do jogo pelos jogadores iranianos, Falcão admite que viveu uma dupla sensação naquele momento. Para o ala brasileiro, além de sua técnica, sua vontade de jogar foi um dos marcos da sua carreira.

– É uma história de anos. É o retorno de uma história. Pela partida que eu fiz, pela história, são 18 anos de seleção brasileira. Eu nunca deixei de pôr a cara. Quantos jogos eu já joguei sem condições nenhuma e ninguém sabia, seja pelo seleção ou pelo clube. Às vezes eu decidi o jogo, às vezes a gente perdia, mas eu nunca me agarrei em lesões, sempre pus a cara para bater e isso foi o grande diferencial da minha carreira.

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Homenagem. Foto: FIFA

Comentarista de futsal do SporTV, Marcelo Rodrigues fez questão de exaltar o papel de Falcão também fora de quadra. Ele lembra que o Brasil viveu um período muito difícil antes do Mundial, de boicotes e crises e que se a seleção entrou com um time competitivo na Colômbia, foi graças ao capitão.

– Ele é o ídolo máximo do futsal nacional. Ele é um cara diferenciado, um cara que bota a cara pra bater o tempo inteiro. A gente vai se mirando nele e vai aprendendo. Muita gente falando que é a “seleção do Falcão”, mas não. Era a seleção brasileira. Muita gente não sabe que ninguém estava recebendo nada para estar aqui. E no pior momento, na pior estrutura, foi ele quem abraçou a seleção brasileira e chamou os jogadores para conversar para conseguir botar o time em campo. Imagina se a gente não tivesse esse grupo de jogadores aqui. Estaria disputando com um grupo de jogadores sub-20 ou que não tem tanto conhecimento. Essa derrota poderia ter sido muito pior.

Luis Domingues

Tratando ela com carinho em Francisco Beltrão. Foto: Luis Domingues

Marcelo destacou também a vontade de todos os jogadores que se esforçaram para jogar a Copa do Mundo. O comentarista pediu também que esse não seja um momento de críticas, mas de união para uma melhor do futsal brasileiro.

– Eu estive em Francisco Beltrão assistindo a preparação. Vários jogadores lesionados se curaram, vários jogadores abraçaram a ideia e por muito pouco a gente não perdeu três jogadores. Mas todos treinaram bastante, treinaram nas férias para estar aqui. Eu já disse várias vezes que a raça e a vontade de mostrar que Brasil ainda é Brasil é muito grande. E isso me deixa feliz por causa da atitude. No jogo, nós tivemos erros técnicos sim, mas no momento isso não é o mais importante. Temos que buscar uma unidade maior do futsal, de todas as áreas e de todos os grupos que tendem a querer o poder pra si se unam para que a gente tenha um futsal melhor – concluiu.