Octavio Azerevedo

Falcão e Felipe Andreoli conversam durante gravação de reportagem na Estação da Luz, em São Paulo. Foto: Octavio Azerevedo

Como ele costuma dizer nas entrevistas, “os números não mentem”. E no caso do Falcão, impressionam. O maior jogador de todos os tempos do futsal se despediu da seleção brasileira no último domingo, em Jaraguá, em Santa Catarina, em um amistoso contra o Paraguai. Mais uma vitória brasileira por 4 a 2, com direito a dois gols do camisa 12. Sendo o primeiro deles de letra, que significou a marca de 400 tentos com a amarelinha. Depois, ainda vieram mais um gol e um monte de merecidas homenagens. Ao total, são 401 gols em 258 partidas pelo Brasil.

“É importante o cara saber a hora de parar. E eu estou fazendo isso: jogando ainda em alto nível, fazendo gols e conquistando títulos. Podem ter certeza que estou muito feliz”, disse.

Nesta semana, o craque encontrou com o apresentador Felipe Andreoli para uma reportagem especial para o Esporte Espetacular, e confirmou em primeira mão a especulação: está se aposentando não só da Seleção, como do esporte também. É isso mesmo, ao fim desta temporada, Falcão se torna ex-jogador.

“É, o cansaço bateu e umas dorzinhas que nunca tive começaram a aparecer. Estou com 41 anos, e percebo que está cada vez mais difícil correr atrás dessa molecada de 20, 21 anos. Mas, com certeza, a sensação que fica é a de dever cumprido”, assumiu.

Sensação essa que pode ser explicada pelo currículo: duas Copas do Mundo, cinco Copas América, ouro no PAN 2007 e 11 Grand Prix, em 20 anos de Seleção. Além de maior artilheiro da história em Copas do Mundo, e maior artilheiro do Brasil em esportes relacionados ao futebol – futsal, futebol de areia e futebol. Por clubes, são 13 títulos estaduais, nove nacionais, sete sul-americanos, sete Libertadores e mais dois Mundiais de Clubes. No total, são incríveis 100 títulos na carreira. A próxima conquista em mente agora é outra.

Octavio Azerevedo

Em frente a aquarela que retrata gol no Pan 2007, Falcão lembra do golaço marcado contra a Argentina. Foto: Octavio Azerevedo

“O legal é que, normalmente, nos outros esportes, cada atleta consegue atingir um recorde diferente. Um é o maior artilheiro disso, o outro daquilo. Um terceiro tem mais títulos, mas graças a Deus eu consegui unificar tudo no Futsal. Agora é descansar. Ficar com a família e só jogar por lazer mesmo”, assumiu.

No cenário da Estação da Luz, uma das mais importantes construções de São Paulo no século XIX, Falcão foi surpreendido pela produção do Esporte Espetacular com uma exposição particular de seis momentos marcantes do camisa 12 pela Seleção Brasileira. E questionado pelo apresentador Felipe Andreoli se lembrava de todos aqueles momentos, o craque deitou e rolou nas respostas.

“Que fera isso daqui! É claro que eu lembro desses momentos, são momentos inesquecíveis na minha carreira”, declarou.

O PRIMEIRO GOL EM TORNEIO OFICIAL PELA SELEÇÃO

“Aí foi o início de tudo, né? A gente que vem de um esporte que não tem tanta visibilidade, estar aparecendo na TV aberta, na TV Globo pela primeira vez… Nossa, a gente ficava louco! Então esse jogo aí eu lembro com muito carinho, foi contra o Paraguai, na Copa América de 1998. Fiz um gol e pude dedicar ao meu avô que não estava muito bem de saúde na época”, lembrou.

GOLAÇO NA FINAL DO PAN 2007

“Esse aí é um dos gols mais importantes da minha carreira. Final, contra a Argentina, no Rio. A gente que sempre brigou para que o futsal entrasse no calendário olímpico, esse foi um dos momentos mais próximo que tivemos disso. O ambiente, a competição… tudo! Na final, fiz esse gol dando um chapéu no goleiro, completando de cabeça e no fim, medalha de ouro. Inesquecível”, recordou.

TÍTULO MUNDIAL 2008

“Essa aqui é nossa Taça do Mundial de 2008, nós vínhamos de uma geração que havia fracassado no início dos anos 2000 e tínhamos a obrigação de vencer jogando em casa. Pra mim, foi a melhor Seleção Brasileira da história. Mas não sei porque não estou aparecendo nessa foto”, disse Falcão.

Octavio Azerevedo

Falcão ficou emocionado com homenagem feita por Andreoli e equipe do Esporte Espetacular. Foto: Octavio Azerevedo

– Você não sabe, Falcão? A gente explica: você tinha ido receber um pouco antes o troféu de Bola de Ouro do torneio, por isso não aparece próximo a taça na hora da comemoração – perguntou Andreoli.

“Realmente, deve ter sido isso, subi ali um pouco antes e acabei afastado. Mas o que importa é que a taça veio e foi um alívio muito grande conquistar essa primeira Copa do Mundo”, riu Falcão.

GOL COM PARALISIA FACIAL EM 2012

“Esse é o momento mais marcante de toda minha carreira. Posso ver mil vezes essa imagem que me emociono. Só eu sei o que passei nesses dias. No primeiro jogo desta Copa, com três minutos, contra o Japão, machuquei a panturrilha. Estamos falando de 2012, na Tailândia. A internet não era do jeito que é hoje. O elenco todo acordava, saía pra tomar café, almoçar, jantar, treinar e jogar e eu só ficava no meu quarto. Fazia tudo lá e não sabia se ia valer a pena”, falou.

“Teve um dia que acordei, fui mastigar, mordi a boca. Piscava o olho, sentia algo diferente. Quando chegou à noite, eu não conseguia fechar o olho. No dia seguinte que era o jogo contra a Argentina, pelas semifinais, não era aconselhável eu ir atuar. Tive que assinar um termo de responsabilidade. Eu pude fazer o gol de empate que levou o jogo à prorrogação, 2 a 2, e depois fiz o terceiro que foi o da classificação. Neste momento, eu me ajoelhei e comecei a chorar. E é essa imagem aqui. Porque, como falei, só eu sei o que havia passado nos dias anteriores”, continuou Falcão.

Octavio Azerevedo

Falcão garante que no Mundial de 2008 foi um dos mais importantes na sua carreira, depois de drama de paralisia facial. Foto: Octavio Azerevedo

SELEÇÃO IRANIANA O SAUDANDO

“Essa é uma imagem que representa muito pra mim. A seleção iraniana que, é uma das mais fortes do mundo, tinha acabado de eliminar o Brasil. Eles tinham todos os motivos pra saírem comemorando entre eles, mas fizeram questão de me reverenciar por saberem que era minha última Copa. E essa imagem é algo, que sinceramente, não vejo em outros esportes. Eu gosto tanto que é a minha foto de perfil nas redes sociais”, lembrou.

DESPEDIDA COM DIREITO AO GOL 400

“Foi um dia especial, né? O Paraguai fez um grande jogo contra nós. Ser em Jaraguá-SC, que pra mim tem um significado especial, ginásio lotado. Uma festa linda. E realmente fechou a minha história com chave de ouro. Vitória, gol 400, gol 401 e dois golaços. Um dia perfeito pra mim. Obrigado Brasil por terem permitido viver isso tudo com vocês”, agradeceu.

Octavio Azerevedo

Craque Falcão marcou o gol 400 na despedida da Seleção Brasileira de Futsal. Foto: Octavio Azerevedo