A surpreendente eliminação da seleção brasileira para o Irã nas quartas de final da Copa do Mundo de futsal deverá trazer consequências que vão além das quatro linhas ao esporte do país. Após o título mundial de 2012, a Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) passou por um ciclo bastante conturbado até chegar em 2016, com quatro trocas de comissão técnica e outras duas presidenciais. Os bastidores agitados acabaram se refletindo na campanha da equipe na Colômbia, lidando pela primeira vez com um adeus antes das semifinais do torneio.

Sérgio Barzaghi

Técnico trabalha atualmente com a base

Atualmente fora das funções relacionadas ao futsal, PC Oliveira, campeão mundial com o Brasil em 2008, teve uma breve participação neste último conturbado ciclo. Ele assumiu o comando técnico do time verde e amarelo após os principais jogadores armarem um boicote à seleção juntamente com a comissão técnica da época, mas não teve tempo para fazer sequer uma convocação, já que a CBFS enfrentou dificuldades financeiras que forçaram a entidade a não assumir compromissos como salários e viagens para torneios fora do país.

Diante de uma verdadeira crise, PC Oliveira crê que o momento agora é de repensar o que está sendo feito no futsal brasileiro durante os últimos anos e tentar buscar uma solução para que a equipe volte a figurar como principal potência do esporte. No entanto, ele prevê dificuldades no caminho, já que a perda de prestígio traz consigo uma menor procura de patrocinadores e outras rendas para a CBFS realizar um projeto coerente.

“Agora o momento é de debater o que precisa ser feito daqui para frente, porque o esporte está sofrendo muito com isso. Os clubes vêm sofrendo com a questão de patrocínios, e agora com esse resultado você afasta ainda mais os torcedores, investidores e patrocínios, porque o resultado é realmente deprimente do ponto de vista do futsal brasileiro”, comentou PC, que atualmente trabalha no futebol de campo como coordenador técnico da Ferroviária, clube pelo qual foi jogador.

Além dos grandes problemas extracampos, que vão desde a parte econômica até as relações políticas dentro da CBFS, a seleção brasileira também terá de lidar com outro grande baque após o fim deste Mundial: a ausência de Falcão. O craque brasileiro anunciou sua aposentadoria do time brasileiro depois da derrota para o Irã nos pênaltis e com isso a equipe precisará encarar o jogo coletivo como o substituto do maior jogador da história do futsal.

Segundo PC Oliveira, o Brasil não vai parar de fabricar talentos, mas a ideia de jogo que vem sendo adotada nos últimos anos, se apoiando bastante no talento de Falcão, terá de mudar. “Sempre vai ter talento para brigar, mas o modelo atual é ser coletivo o tempo todo. A falta do Falcão será sentida de todos os ângulos, tanto dentro quanto fora da quadra”, disse.

“O principal é reconstruir o esporte e sem ele a gente vai ter que construir uma equipe forte, pesada. Novas gerações precisarão estar convivendo com isso no dia a dia, sabendo que infelizmente, ou felizmente, não há mais espaço para um jogador único. Os outros esportes estão nos ensinando isso, inclusive o futebol de campo”, completou PC.