O dia era 13 de março de 1986. A Associação Carlos Barbosa de Futsal (ACBF) acabara de completar 10 anos de existência e ainda não almejava grandes títulos nacionais e internacionais. Na verdade, ainda estava longe do primeiro troféu da sua história. Mas aquele dia é lembrado com carinho por Luiz Carlos Schmitz, o Farroupilha. Foi ali que ele começou a sua história como massagista e roupeiro da Laranja Mecânica do futsal. As três décadas de trabalho fizeram com que o clube se transformasse em uma peça importante da sua própria família. A paixão é tamanha que ele decidiu estampá-la na própria pele.

Ulisses Castro / ACBF

Tatuagem para marcar os 30 anos de ACBF. Foto: Ulisses Castro / ACBF

Os atletas encorajaram e o Farroupilha resolveu fazer a sua primeira tatuagem, aos 55 anos.  E tinha de ser o escudo do Clube no braço. Semanas antes, a ansiedade já era evidente no vestiário. Até que os alas Bruno e Murilo resolveram leva-lo até o estúdio em Bento Gonçalves. O tatuador JP, conhecido por tatuar os atletas da ACBF, foi o responsável por reproduzir o desenho na pele do funcionário mais antigo do clube. Farroupilha garante que não sentiu nenhuma dor, pois a paixão pelo time era muito maior.

Farroupilha é o sujeito brincalhão do vestiário e também é muito conhecido no meio do futsal. Algo que não imaginava quando começou a trabalhar no clube. “Eu morava em Farroupilha e cheguei em Carlos Barbosa em 1983. A primeira vez que ouvi falar na ACBF foi em 1984. Eu estava no Citadino de Futsal, que era realizado na Escola Santa Rosa, e ouvia o pessoal falando que queriam convocar os melhores de cada time para a ACBF. Lembro de perguntar quem era a ACBF e me disseram: é a Associação Carlos Barbosa de Futebol de Salão. Comecei a acompanhar desde aquele momento. Em 1986, o Lírio Foppa, que era o supervisor na época, me convidou para trabalhar na ACBF. Eu não sabia fazer nada, mas ele me falou que me ensinariam. Comecei como roupeiro, fui me interessando mais e depois me colocaram como massagista da equipe juvenil”.

Ele ficou no Sub-20 até 2006. Foi depois do tricampeonato da Liga Nacional de Futsal, que Farroupilha passou a integrar a delegação da equipe principal como massagista. E de 2009 em diante também acumulou a função de roupeiro.

Farroupilha tem no currículo inúmeros jogos marcantes, mas tem aquele que é inesquecível: a final da LNF de 2009. “Muitos jogos me marcaram, mas a final da LNF de 2009 foi o maior. Até então, nenhum time havia sido campeão com a decisão fora de casa. Ainda mais com a potência que o time do Jaraguá tinha naquela época. Ganhamos o primeiro jogo em Carlos Barbosa e na volta perdemos no tempo normal lá em Jaraguá. Mas na prorrogação a gente ganhou e ficou com o título. Lembro que o ginásio tinha mais de 10 mil pessoas torcendo para eles”.

Porém, para o massagista, talvez a maior vitória da história da ACBF não tenha ocorrido dentro de quadra. Foi antes mesmo da profissionalização do clube. Nos anos 1990, após quase 20 anos de insucessos no Estadual, dirigentes e conselheiros foram chamados para uma reunião para decidir sobre a continuação ou a extinção da ACBF. O encontro foi chamado de Reunião da Morte e o massagista estava lá naquele dia. “Foi a coisa que mais marcou. A gente se reuniu no sítio do Clovis (Tramontina, presidente de honra vitalício) para decidir se a ACBF fecharia as portas. O Clovis reuniu todo mundo, mas achava que ninguém fosse nessa reunião. E todos os envolvidos com a ACBF estiveram lá. Pra mim foi o momento mais importante da ACBF. Pra mim foi a maior vitória”.

Após 30 anos de trabalhos no time de Carlos Barbosa, Farroupilha diz com orgulho que a ACBF é muito mais que o seu trabalho. “A ACBF para mim é um integrante da minha família. É como um filho para mim. Tenho quatro parentes muito próximos aqui em Carlos Barbosa. Meus três filhos e a ACBF”, comentou com orgulho. “Falei que iria fazer uma tatuagem da minha filha: a ACBF. Daí me perguntaram: ‘e os teus outros filhos?’. Daí eu respondi: ‘os outros três estão estampados no meu coração’”.